quinta-feira, 6 de março de 2014

Auto-suficiência só existe em aldeia isolada e comunidade hippie (e olhe lá)


Não falta gente para anunciar que o isolamento do Acre provou a “falência do modelo produtivo do estado”.

Aparentemente, isso se deve ao fato de que Rio Branco não consegue se manter pelas suas próprias pernas e que o isolamento trouxe graves consequências ao abastecimento da cidade. 
Na mente de muitos, uma consequência da baixa produtividade do estado.  

Isso pode nos levar a imaginar que uma cidade com grande produção agrícola no interior do Mato Grosso, ou do Paraná, caso sofressem um isolamento rodoviário, seriam capazes de suprir sozinhos a todos os itens de consumo básico de sua população. Certo? 

Errado. Nada mais equivocado, e quem professa tamanha asneira ou o faz por desconhecimento fundamental de história e geografia ou por desonestidade intelectual e oportunismo de véspera de campanha.

Vejamos, por exemplo, um município qualquer do estado de MT, um dos maiores produtores de soja do país. Alguém acredita que se esse município por qualquer razão sofrer um isolamento rodoviário, não vai faltar nada para os seus cidadãos? Adeus pão, porque farinha de trigo não se produz no MT.  

Mesmo em um estado como São Paulo, grande produtor de hortifrutigranjeiros, a maior parte do arroz e do feijão consumidos veem de outros estados. São Paulo, cidade e estado mais desenvolvidos do país dependem de pelo menos três safras anuais de feijão: sul, nordeste e centro-oeste.

Ou seja desenvolvimento não tem relação com auto-suficiência. Quem o afirma o faz de modo enganado, ou pior, enganoso. 

Na verdade quanto maior o desenvolvimento maior é o grau de dependência.

Tampouco a meta do capitalismo é a auto-suficiência. Pelo contrário: é aumentar o fluxo de mercadorias e capitais, ou seja, a interdependência entre os mercados produtores e consumidores.

A população do Acre é “punida” sim, mas não por não ser capaz de produzir os itens de que sua população necessita, mas por não ser capaz de produzir um item forte de exportação que o integre a esta rede de mercados.

A questão passa então a ser outra: o Acre somente existe como território civilizado a partir da exploração econômica da borracha. Findo este ciclo, o que colocar no lugar: madeira, pecuária, soja, petróleo?


Comecemos então a debater a questão a partir daí. Por que se a agenda para o estado for a alegada “auto-suficiência” de alguns incautos, talvez seja melhor se basear no modelo de algum povo indígena isolado, ou quem sabe, alguma comunidade hippie do Alto Paraíso.

Se é para anunciar alguma falência, que se anuncie a falência deste modelo de capitalismo que nos obriga a explorar povos e natureza em nome de um progresso e desenvolvimento que apenas nos coloca a cada dia, mais próximos do abismo. 

Um comentário:

  1. As populações das cidades médias do Centro Oeste são as mais vulneráveis justamente por não produzirem quase nada, além de alguma monocultura. A monocultura e a criação para o mercado externo a estas cidades as colocam entre as mais dependentes de gêneros de primeira necessidades. O mesmo podemos falar do Acre, que fez até aqui, a mesma opção, talvez com menor eficiência.

    Lindomar Padilha

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