quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O efeito judaizante do GOSPEL sobre a cultura


Não deixa de ser um fenômeno interessante o fato de que os evangélicos têm progressivamente, adotado cada vez mais simbologias e referências culturais judaicas e israelitas.
Nada mais natural já que a Bíblia trata exclusivamente de acontecimentos narrados pelos povo hebreu.

Estrela de Davi, candelabros e até cópias da arca da aliança são adotadas em algumas igrejas.

Agora, por favor evangélicos usem a estrela de Davi, mas não a bandeira do estado de Israel. É no mínimo assustador ela ser erguida como símbolo religioso. O Estado de Israel é um país onde quem não é judeu é cidadão de segunda ou terceira classe. Um estado violento e autoritário, que não respeita os direitos humanos, que invade outras nações, que destrói as cisternas que os palestinos usam para acumular a água da chuva e fazê-los morre de sede, que os trata como sub humanos, enfim, pode ser exemplo de tudo menos do amor que Jesus pregou.

Eu não duvido que em breve alguns pastores comecem a sugerir a circuncisão e a proibição à carne de porco (leia em Levitas). Na verdade, algumas comunidades evangélicas já estão adotando a comida "Kasher" tal qual preconiza o velho testamento. Também algumas denominações já estão adotando o kipá (espécie de gorro judaico) e o interesse pelo estudo do hebraico tem crescido entre os evangélicos. Não há nada de errado nisso, é o dinamismo da cultura em ação. Mas por favor, só não me chamem de exótico por me pintar de genipapo.

Os cristãos evangélicos parecem esquecer o fato de que os judeus jamais aceitaram Cristo como o seu messias. Para os judeus, Jesus não passa de um mentiroso quando diz que é filho de Deus.
Já os islâmicos aceitam o Jesus, não como filho de Deus, mas como profeta.
Os hinduístas não tem dificuldade nenhuma em aceitar que Jesus seja de fato, filho de Deus.
Para eles, seria mais uma das inúmeras vezes em que Deus se fez carne.

As grandes civilizações da América, Incas, Maias e Astecas, conheciam o valor do sacrifício Segundo alguns historiadores, o sacrifício humano nestas sociedades era inicialmente voluntário e somente mais tarde tornou-se compulsório. Portanto, para eles, é relativamente fácil aceitar que o filho de Deus tenha se feito homem para ser sacrificado, pois isto encontra ecos em mitos muito antigos que falam de algo semelhante já ter ocorrido.
Portanto, o verdadeiro desfio não é evangelizar estes povos. O grande desafio seria evangelizar os adoráveis israelitas. Lanço este desafio para os evangélicos, ao invés de fazer turismo, pregar o evangelho na terra do salvador, onde os cristãos são cidadãos de segunda classe, tolerados pelo Estado, graças ao dinheiro que levam a Jerusalém.

A Cultura é dinâmica em criar e recriar identidades

Isso só prova na verdade o dinamismo da cultura e de sua função de criar e recriar identidades.As referências culturais dos cristãos católicos, estão todas impregnadas da latinidade romana que foi imprimida à religião católica. Nada mais natural, portanto, que os cristãos evangélicos neguem esta latinidade e busquem suas referências culturais em Israel, como forma de afirmação de uma nova identidade, distinto da maioria católica do país.

No entanto, em tempos de cultura de massa, a absorção dos novos símbolos se dá de modo tão mecânico e automático, que por vezes impede de uma reflexão mais aprofundada.

A primeira delas, revela o óbvio: a Bíblia relata acontecimentos que ocorreram em uma parcela ínfima do planeta Terra e trata-se da história de um único povo e não da humanidade.

Portanto quando alguém diz "tal coisa não está na bíblia" equivale dizer apenas que não aconteceu no Oriente Médio, ou que não foi relatado pelos Hebreus.

(1-Isto sem contar que O Pentateuco, ou "Torah" judaico trata apenas daqueilo que era dito às massas. O "Zorah" conhecimento mágico-cabalístico, não está inserido na bíblia, mas faz parte do mesmo conteúdo em que ela foi escrita).

(2- Arqueológos também tratam de tema interessantes, como por exemplo de que os mitos do Gênese e do dilúvio, são na verdade, mesopotâmicos e foram absorvidos depois do cativeiro da babilônia. Outro ponto interessante é que a bíblia também sofreu inúmeras edições. Uma delas, por exempo, foi o "expurgo" da parte feminina de Deus, ou "consorte de Deus, Astarté)

Por questões geográficas ficam totalmente de fora as tradições espiritualistas do Oriente (Krishna, Buda, Lao Tsé), da África (Orixás) e das Américas (e todas as tradições xamânicas do Chile ao Alasca). Negar a estes outros povos a sabedoria, equivale a apostar em um deus mesquinho, que nos mais de 10 mil anos de existência da humanidade, olhou apenas para um único povo.

Certa vez ouvi de um sujeito: "os judeus são os inventores do nazismo. Moisés foi o precursor do nazismo quando disse que o povo judeu era o escolhido e que deveria subjugar os demais, os "incircuncisos".

Bem, exageros à parte, a afirmação faz todo sentido. No entanto, todos os povos tem sua dose de etnocentrismo. Os Maori, da África também dizem algo parecido sobre si mesmos. Os Incas também se declaravam filhos do Sol e destinados a governar as "quatro partes". Para os Arianos do planalto do Irã, seu povo era sinônimo de "elevado", "sagrado", face aos demais.

Portanto, não há nada de errado os hebreus afirmarem o mesmo. Só é preciso levar em conta que se para seus profetas, o povo hebreu é o povo escolhido, para os sábios e profetas de cada povo desta humanidade, seu próprio povo também o é.

É muito comum entre os povos indígenas, por exemplo, que sua auto-denominação os designe como "povo verdedeiro", como se os demais, não o fossem de fato. Kunibo, por exempo quer dizer povo belo ou verdadeiro. O mesmo significado para Huni Kuin. Os Cherokee também são o "povo belo", e por aí vai.

Os Tupis acreditam que eles foram feitos das primeiras palavras que Deus pronunciou e são eles portanto, os legítimos herdeiros desta terra (bem, de fato esta terra era deles, os filhos de Tupã, e se o endereço da "Terra Prometida" é Israel, a "Terra sem males" dos profetas guaranis, fica em algum lugar entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai).

Estamos falando sobre o conceito de alteridade, ou seja, enxergar ao outro em suas diferenças. Conceito que os indígenas da grande família Pano denominam com a palavra "Nauá".

Jesus, libertou muito dos conceitos culturais do povo hebreu e trouxe ensinamentos que são universais. Tão universais que são encontrados paralelos quase idênticos, por exemplo, no Bhavagad Gita, escrituras sagradas do povo hindu. Os ensinos sagrados deixados pelo Avatar (encarnação de Vishnu-Deus) Krishna se assemelham enormente com o que Jesus viria a dizer 4 mil anos mais tarde.

Muitos cursos de Teologia, resumem tão somente, à "bibliologia", ou seja, o estudo do que está na bíblia, como se não houvessem escrituras sagradas e conhecimentos orais em todos os outros povos. O estudo comparado das religiões, nos mostra muito mais semelhanças em suas essências, do que diferenças. Tais diferenças são quando muito, resultado da diversidade cultural e de pontos de vista, que somente enriquecem o conjunto da humanidade.

Jesus disse para que amássemos uns aos outros. Ele não falou da necessidade de uma conversão cultural. O batismo é muito mais uma aceitação e um abrir dos olhos e do coração para as verdades enunciadas. Extamente como disse Krishna, 4 mil anos antes. No entanto, as religiões parecem pregar algo distante desta realidade, como se para "amar ao próximo" devessem primeiro, tornar o "próximo" exatamente igual ao seu próprio reflexo no espelho.

"Tire seu cocar de penas, vista um terno, abandone seus cantos e tradições, esqueça suas hitórias. Pare de pintar o seu rosto, aprenda a cantar como nós. Seja como nós. Aí, sim, eu te amarei" - Essa é a mensagem deixada. Muito distante do "amar ao próximo como a ti mesmo".

Deveriamos pensar que se o índio é "exótico", muito mais exótico é recriar nas Américas, referências culturais de uma terra desértica, que ao invés de "jorrar leite e mel" jorra mesmo é "chumbo quente" para cima dos palestinos.

Lembre-se disso, quando achar estranho alguém pintado de genipapo. Eles não sáo exóticos, exóticos somos nós.

Conhecer e respeitar a validade dos ensinamentos, tradições e verdades de cada povo e de cada individuo, apenas encurtaria a distância para que se cumprisse na Terra o ensinamento de Jesus. "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei"

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