terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Como me tornei Jornalista


Aviso: Por favor, se você não tem bom humor, nem perca seu tempo lendo esta postagem.

Primeiro dia de Aula

Entra na sala o professor de Legislação e Ética, Luis Carlos Rocha, ou simplesmente, o "Rocha". Moreno, meio bonachão, mas muito bem articulado. Um forte sotaque nordestino e um francês impecável. Sandálias de tiras de couro nos pés.

Esta será a primeira aula do curso de jornalismo na ECA-USP. Junto comigo apenas as outras dezenove pessoas que conseguiram a aprovação no vestibular da FUVEST. Eu passara em segundo lugar na minha turma.

Aquele não havia sido o ano do jornalismo. A concorrência fora apenas 49 candidatos/vaga. Publiciddae, naquele ano foram 137/vaga. Já no ano anterior, o jornalismo havia sido "moda" e teve 125/vaga.
No ano seguinte, foi a vez da biologia, beirando os 200 candidatos/vaga.

Rocha faz as apresentações e propõe um pequeno jogo: cada um deveria dizer os motivos pela qual havia escolhido o Jornalismo como carreira.

Comecei a pensar... Foi quase por eliminação. Sempre fora um desastre em ciências exatas (depois, milagorsamente, parece que eu aprendi conceitos que antes me pareciam totalmente ininteligíveis).
Portanto, excluí de cara todas as engenharias. Mesmo que pudessem ser carreiras promissoras, detestaria fazer algo "apenas por dinheiro" e ser um mau e frustrado profissional.

Tampouco, me sentia atraído pela Medicina, ainda que a idéia de ajudar as pessoas me parecesse fascinante.

Meu pendor sempre fora para as humanas. Em especial, História. Meus amigos na Marinha diziam que deveria estudar para administração ou economia. Minha mãe queria que fizesse direito. Pensava em cursar História, mas todos amigos e familiares diziam:

"- não, não faça História não! Você vai passar fome como professor..."

Quando regressei a São Paulo (ainda estava morando em Angra dos Reis) os horizontes se abriram e surgiram duas opções que me interessaram bastante: publicidade e jornalismo.

Haviam muitas gatinhas querendo publicidade, o que certamente foi um fator de motivação.

Mas de volta à SP, o debate político da sucessão municipal acirrou-se e acabei percebendo uma forte vocação para o jornalismo. "não se preocupe, a escola de publicidade fica do lado de jornalismo, você ainda vai ver muitas destas gatinhas por lá..."

Naquele ano de 1992 veio o movimento fora Collor e acabei participando também como um "cara-pintada". Tinha 18 anos na época.

De repente, tudo passou a fazer sentido: uma visão crítica da realidade e a possibilidade de atuar de modo imediato nesta realidade. Para mim era uma espécie de guerrilha sem armas. Possibilidade de ação e movimento e a visão crítica da realidade.

Ainda na Marinha dera meus primeiros passos nas letras, contando um pouco da nosa dura, mas poética realidade como adolescentes em um internato à beira mar, divindo a enseada com os pescadores e as gaivotas.

Escrever aqueles ensaios também me despertara a paixão pela escrita.

O jornalismo me possibilitaria uma ação na realidade, através da escrita e o conhecimento de história como embasamento.

Quando a primeira pessoa respondeu, foi isso que saiu:

"- escolhi jornalismo por que eu gosto de escrever e é uma forma de atuar na realidade... ajudar a mudar o mundo... Ah! e também por que gosto de história e para fazer bom jornalismo, tem que conhecer de história"

Todos os outros dezenove repetiram com pequenas variações, o mesmo tema: gosto pela escrita, vontade de atuar de modo direto na realidade do país e afinidae com história e ciências humanas em geral.

Por estar sentado do outro lado da sala, seria o último a responder, e acharia péssimo dizer a mesma coisa que os outros dezenove já haviam dito.

Foi somente aí que me lembrei, de algo que me ocorrera cerca de dois anos antes.

Algumas amigas minhas da baixada santista foram consultar uma vidente. A cigana jogou cartas para elas, revelando aspectos de suas vidas nos campos amoroso, profissional, pessoal... etc.

Depois de fazer as revelações às minhas amigas, apontou para mim e disse: - E você, não quer saber o que a cigana em para te dizer?

E me aproximei dela então. E ela leu os sortilégios, em cartas, buzios e nas linhas das mãos:

- Você não pode viver dentro de um aquário... Não pode ser serviço de gabinete. Eu recomendo você fazer publicidade ou jornalismo.

Eu nunca mais havia me lembrado daquela consulta e não pesou na minha decisão, mas ali naquela aula do professor Rocha, me lembrei das palavras da cigana...

Finalmente o Prof.Rocha, me arguiu:

-E você, por que escolheu jornalismo.

Eu não resisti e atendendo a máxima: "perco o amigo, mas não a piada", tasquei-lhe:

- Foi o que uma cigana me falou para eu fazer....

Foi aquela gargalhada geral... e acabei sendo chamado por alguns colegas de o "Cigano".

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