Mantendo a tradição do Terranauas de cá e acolá comentar filmes, o faço agora sobre a segunda versão cinematográfica para o "Fúria de Titãs". Fui fã da primeira versão, quando ainda era um menino e o menino que ainda vive em mim me disse: "pai, me leva para eu ver..."
Fui, e para mim foi um "refresco titânico" depois de uma semana pesada lidando com assuntos quentes como a questão do gás, da água, entre outros.
Tomo como fio da meada a máxima dos historiadores que dizem que é importante fazer uma leitura de um épico, a partir da atualidade. Ou seja, quando se interpreta hoje, por exemplo um clássico como Shakespeare ele estará impregnado de referências ao tempo presente e é nessas referencia que está a maior riqueza da interpretação.
O cinema de Hollywood é tão poderoso que até hoje quando se fala sobre a passagem dos hebreus pelo mar vermelho logo se pensa naqueles dois paredões de água imortalizados pelo filme "Dez Mandamentos". Embora na Bíblia não haja referencias de que tenha sido daquele jeito, esta é a visão que nos vem á mente assim que pensamos no episódio.
Por isso, Lula, Dilma, investir em cinema é tão importante quanto explorar o pré-sal. É grande parte dele que sai a visão de mundo de um povo e somente seremos independentes de fato, quando formos capazes de criar uma visão própria de mundo e transformá-la em cultura de massa. Caso contrário, continuaremos fregueses da visão alheia.
Por isso não espantou que a atual versão dos guerreiros gregos da Era do Bronze se assemelhassem a fuzileiros navais americanos.Bem, os gregos eram mesmo uns tipos meio "marines", mistos de soldados de infantaria com marinheiros.
Mas não foi isso o que mais me marcou, afora os efeitos especiais, que em excesso, tornam o filme um pouco chato, o mais interressantes são os diálogos em que gira o tema central do filme: a relação entre o homem e a divindade.
Ainda que se trate de uma sociedade politeísta, no filme podemos encontrar elementos da ideologia que o seu autor intencionou transmitir. de um lado o orgulho de uma humanidade que acredita não mais precisar do divino. Do outro um divino que se alimenta ora do amor, ora da dor dos mortais. Entre os humanos, caracteres divinos que seriam indicativos de nossa origem: amor, compaixão, coragem, caridade...
Particularmente acho as sociedades politeístas bem mais interresantes, pois permitem uma multiplicidade de visão de mundo. As religiões abrâmicas (judaismo, cristianismo e islamismo) simplficaram as coisas colocando um só deus, mas tinham que ter um antagônico, pois sem oposição não há movimento(como explicar as contradições que fazem a história?) e assim, deram a Lucífer o que antes pertencia a Hades.
Filho de um deus, Perseu realiza aquilo que o historiador Mircea Eliade descrevia como o "Mito do Eterno Retorno", uma função psicológica presente em toda a humanidade que é explicada pelo mito.
Em uma parte do filme, é retratado aquilo que os hindus denominam "Tantra", a relação divinizada entre homem e mulher. Mas para isso, ele terá antes que passar pela Medusa, uma mulher que "petrifica" o homem. Só homens podem entrar em seu templo. Bote a cabecinha para funcionar e entenderá do que se trata. Quem nunca conheceu mulheres capazes de "imobilizar" o homem? Mas a parceira tântrica de Perseu no filme é Io (ele apropria também uma semi-deusa).
Os mitos na verdade são um universo simbólico riquíssimo e não se deve procurar neles o sentido de realidade histórica, mas sim elementos conscientes e sub-conscientes capazes de nos ampliar o vocabulário de nosso auto-conhecimento.
Um assunto muito vasto, que por ora, quero somente dar uma pincelada para que meus poucos mais valiosos leitores tenham também à sua disposição peças fundamentais para a compreensaõ da realidade simbólica que nos cerca.
Ah! Só para terminar com uma blasfêmia. Ao fim do filme (e do mito), Perseu derrota o mostro marinho Kraken e montado em um cavalo alado com uma espada de luz, expulsa Hades para o mundo subterrâneo.Qualquer semelhança com São Miguel Arcanjo é mera coincidência (cala-te boca).
Fui, e para mim foi um "refresco titânico" depois de uma semana pesada lidando com assuntos quentes como a questão do gás, da água, entre outros.
Tomo como fio da meada a máxima dos historiadores que dizem que é importante fazer uma leitura de um épico, a partir da atualidade. Ou seja, quando se interpreta hoje, por exemplo um clássico como Shakespeare ele estará impregnado de referências ao tempo presente e é nessas referencia que está a maior riqueza da interpretação.
O cinema de Hollywood é tão poderoso que até hoje quando se fala sobre a passagem dos hebreus pelo mar vermelho logo se pensa naqueles dois paredões de água imortalizados pelo filme "Dez Mandamentos". Embora na Bíblia não haja referencias de que tenha sido daquele jeito, esta é a visão que nos vem á mente assim que pensamos no episódio.
Por isso, Lula, Dilma, investir em cinema é tão importante quanto explorar o pré-sal. É grande parte dele que sai a visão de mundo de um povo e somente seremos independentes de fato, quando formos capazes de criar uma visão própria de mundo e transformá-la em cultura de massa. Caso contrário, continuaremos fregueses da visão alheia.
Por isso não espantou que a atual versão dos guerreiros gregos da Era do Bronze se assemelhassem a fuzileiros navais americanos.Bem, os gregos eram mesmo uns tipos meio "marines", mistos de soldados de infantaria com marinheiros.
Mas não foi isso o que mais me marcou, afora os efeitos especiais, que em excesso, tornam o filme um pouco chato, o mais interressantes são os diálogos em que gira o tema central do filme: a relação entre o homem e a divindade.
Ainda que se trate de uma sociedade politeísta, no filme podemos encontrar elementos da ideologia que o seu autor intencionou transmitir. de um lado o orgulho de uma humanidade que acredita não mais precisar do divino. Do outro um divino que se alimenta ora do amor, ora da dor dos mortais. Entre os humanos, caracteres divinos que seriam indicativos de nossa origem: amor, compaixão, coragem, caridade...
Particularmente acho as sociedades politeístas bem mais interresantes, pois permitem uma multiplicidade de visão de mundo. As religiões abrâmicas (judaismo, cristianismo e islamismo) simplficaram as coisas colocando um só deus, mas tinham que ter um antagônico, pois sem oposição não há movimento(como explicar as contradições que fazem a história?) e assim, deram a Lucífer o que antes pertencia a Hades.
Filho de um deus, Perseu realiza aquilo que o historiador Mircea Eliade descrevia como o "Mito do Eterno Retorno", uma função psicológica presente em toda a humanidade que é explicada pelo mito.
Em uma parte do filme, é retratado aquilo que os hindus denominam "Tantra", a relação divinizada entre homem e mulher. Mas para isso, ele terá antes que passar pela Medusa, uma mulher que "petrifica" o homem. Só homens podem entrar em seu templo. Bote a cabecinha para funcionar e entenderá do que se trata. Quem nunca conheceu mulheres capazes de "imobilizar" o homem? Mas a parceira tântrica de Perseu no filme é Io (ele apropria também uma semi-deusa).
Os mitos na verdade são um universo simbólico riquíssimo e não se deve procurar neles o sentido de realidade histórica, mas sim elementos conscientes e sub-conscientes capazes de nos ampliar o vocabulário de nosso auto-conhecimento.
Um assunto muito vasto, que por ora, quero somente dar uma pincelada para que meus poucos mais valiosos leitores tenham também à sua disposição peças fundamentais para a compreensaõ da realidade simbólica que nos cerca.
Ah! Só para terminar com uma blasfêmia. Ao fim do filme (e do mito), Perseu derrota o mostro marinho Kraken e montado em um cavalo alado com uma espada de luz, expulsa Hades para o mundo subterrâneo.Qualquer semelhança com São Miguel Arcanjo é mera coincidência (cala-te boca).
Agora tenho um bom motivo pra ver o filme que resistia em assistir. E Mitologia é mesmo algo fascinante. Eu nem sabia tratava-se de um remake.
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