sábado, 15 de novembro de 2014
Imparcial é a minha cafeteira
Tenho vontade de dizer um palavrão toda vez que ouço alguém fazer pregação sobre de "imparcialidade". Pior ainda se este alguém for um jornalista.
Fico pensando o que andam ensinando nas escolas de jornalismo. Na que eu frequentei, aprendi que imparcialidade é algo que simplesmente não existe.
O mais honesto que um jornalista pode ser consigo mesmo e com seu público é admitir a sua parcialidade.
Imparcialidade significa ser capaz de produzir notícia e informação de maneira totalmente objetiva, sem qualquer traço de subjetividade.
Ora, e como é possível, sendo o jornalista ele próprio um "sujeito" abstrair totalmente a sua própria "subjetividade" ? O próprio ato de "apropriar-se" da realidade é um processo subjetivo e desconhecer isso é o primeiro passo para que o jornalista inadvertidamente imponha a sua própria interpretação da realidade como "verdadeira".
O comunicador que ainda aja desta maneira, das duas uma: não possuiu formação adequada, ou está usando de má fé.
Estamos fartos de exemplos ao nosso redor. Do Jornal Nacional à Revista Veja, todos gostam de alegar uma pretensiosa imparcialidade que nunca possuíram. Sua opiniões estão, implícita ou explicitamente, eivadas de uma visão de mundo próprias de uma classe social. Negar que haja uma posição política por trás disso, não é apenas desonestidade: é exercício de estelionato intelectual.
Assédio Moral
No entanto é com base na falácia da imparcialidade que alguns meios de comunicação passam a exigir de jornalistas, desfiliação partidária, de quem por ventura possuir.
Só uma estupidez sem tamanho pode justificar tal coisa.
Primeiro, porque a não-filiação partidária não é garantia de que o jornalista ou comunicador não possua sua própria visão política.
Segundo, porque o exercício de participação política é garantia constitucional. Exigir desfiliação partidária além de representar uma marcha-ré para a democracia, configura assédio moral, incompatível com qualquer empresa, muito mais se tratando de uma empresa de comunicação de rádio e tele-difusão, que administra na verdade não apenas um simples negócio, mas uma concessão pública.
"Formatar" e empregar jornalistas incapazes (ou proibidos) de pensar e agir politicamente equivale uma castração, já que a visão política é uma daquelas partes que tem grande importância na vida do jornalista.
É muito parecida com a ideia de castrar eunucos para tomar conta de um harém. Ou talvez, como os famosos "castratti" da renascença: jovenzinhos que tinham seus testículos retirados. Sem nunca alcançar a maturidade, os "castradinhos" podiam sempre cantar com o mesmo tom de voz que agradava aos seus patrões.
O "harém" neste caso representa os próprios interesses políticos e econômicos da emissora. Enquanto se exige dos seus "eunucos castrados" total obediência ao seu próprio projeto político-econômico, ainda comete o estelionato moral de dizer ao seu público que é "imparcial".
Imparcial é a minha cafeteira!
Ela faz café forte ou fraco, de acordo com a medida de pó e água que eu coloco nela.
Jornalistas não são cafeteiras e jornais tampouco são fábricas onde se enfia um porco de um lado e se retira a salsicha do outro.
O estelionato moral, consiste em se colocar para o público como mero transmissor de informações, sem qualquer cunho ideológico, sem qualquer interesse político. Que meigo!
Mas no frigir dos ovos, um público cada dia mais antenado, percebe claramente as tendências políticas e eleitorais daquele meio, e o que é pior tratando de modo desonesto as diferenças políticas sem a qual, não haveria democracia.
Em se tratando de concessões públicas, o mínimo de respeito com o público, e com os profissionais, é tratar da questão política de maneira honesta e não com o obscurantismo de quem guarda cartas escondidas na manga, para no momento propício usar como um trunfo em benefício de seus próprios interesses.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
"É pouco" - afirma Vagner Sales sobre desconto em folha de pagamento
"- Vocês não tem mais o que fazer? Isso é falta de assunto? Vocês estão tomando meu precioso (sic) tempo"
Essa foi a recepção calorosa com que o coronel de barranco Vagner Sales recebeu a imprensa de Cruzeiro do Sul, não na prefeitura, mas na sua "Casa do Povo".
Enquanto as equipes aguardavam a sua chegada, um dos repórteres recebeu uma ligação, proibindo-o de cobrir a pauta. Constrangido, foi obrigado a deixar o recinto, impedido de cumprir a sua função.
Vomitando a sua proverbial arrogância a cada sílaba, Vagner teve o descaramento de dizer que a cobrança além de normal, ainda era "pouco".
Em uma comparação esdrúxula, fez menção aos senadores, deputados e vereadores eleitos que recolhem parte dos vencimentos para os partidos pela qual se elegeram.
Só mesmo muito descaramento para fazer esta comparação.
O denunciante N.S.O. não é mais do que um operador de máquinas. Nem sequer é filiado ao PMDB
Durante a coletiva, Vagner afirmou que as pessoas "concordaram" com o desconto, mediante a assinatura de um termo. E ainda disse: "O PMDB cobra é pouco".
O "Leão" correu
Contudo, apesar da explícita prepotência de quem se acha "dono" da cidade, as equipes de jornalismo fizeram o "leão" correr da sala quando perguntaram porque a prefeitura não estava recolhendo os direitos trabalhistas do funcionário.
O coronel simplesmente levantou-se e foi embora.
Imoral e Ilegal
O promotor Wendy Takao, do MP Acre afirmou que uma investigação sobre o desconto ilegal em folha corre desde de junho deste ano e que já houveram outros denunciantes. O promotor afirma que já foi solicitado um documento da prefeitura com os nomes dos funcionários que tem descontos em folha, e que os documentos enviados pela prefeitura estão incompletos.
Para o promotor, o MP vislumbra no desconto em folha uma ação que fere o princípio constitucional da moralidade administrativa, incorrendo em crime contra a lei de improbidade administrativa
Sobre o não pagamento dos direitos trabalhistas, Wendy Takao disse que deveria ser objeto de investigação pela PF.
Essa foi a recepção calorosa com que o coronel de barranco Vagner Sales recebeu a imprensa de Cruzeiro do Sul, não na prefeitura, mas na sua "Casa do Povo".
Enquanto as equipes aguardavam a sua chegada, um dos repórteres recebeu uma ligação, proibindo-o de cobrir a pauta. Constrangido, foi obrigado a deixar o recinto, impedido de cumprir a sua função.
Vomitando a sua proverbial arrogância a cada sílaba, Vagner teve o descaramento de dizer que a cobrança além de normal, ainda era "pouco".
Em uma comparação esdrúxula, fez menção aos senadores, deputados e vereadores eleitos que recolhem parte dos vencimentos para os partidos pela qual se elegeram.
Só mesmo muito descaramento para fazer esta comparação.
O denunciante N.S.O. não é mais do que um operador de máquinas. Nem sequer é filiado ao PMDB
Durante a coletiva, Vagner afirmou que as pessoas "concordaram" com o desconto, mediante a assinatura de um termo. E ainda disse: "O PMDB cobra é pouco".
O "Leão" correu
Contudo, apesar da explícita prepotência de quem se acha "dono" da cidade, as equipes de jornalismo fizeram o "leão" correr da sala quando perguntaram porque a prefeitura não estava recolhendo os direitos trabalhistas do funcionário.
O coronel simplesmente levantou-se e foi embora.
Imoral e Ilegal
O promotor Wendy Takao, do MP Acre afirmou que uma investigação sobre o desconto ilegal em folha corre desde de junho deste ano e que já houveram outros denunciantes. O promotor afirma que já foi solicitado um documento da prefeitura com os nomes dos funcionários que tem descontos em folha, e que os documentos enviados pela prefeitura estão incompletos.
Para o promotor, o MP vislumbra no desconto em folha uma ação que fere o princípio constitucional da moralidade administrativa, incorrendo em crime contra a lei de improbidade administrativa
Sobre o não pagamento dos direitos trabalhistas, Wendy Takao disse que deveria ser objeto de investigação pela PF.
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Reforma da Praça nega o verdadeiro autor da obra, afirma César Messias
O deputado federal eleito pelo PSB, César Messias fez críticas contundentes à reforma da praça realizada pelo prefeito Vagner Sales.
"É de um mau gosto extraordinário", dispara.
Mas as críticas não se limitam ao aspecto burlesco da obra. Para César Messias, por trás da aparente "homenagem" à Orleir Cameli, há uma tentativa deliberada de apagar e reescrever a história de Cruzeiro do Sul.
"O verdadeiro autor daquela obra, é Orleir Cameli. Orleir teve muito trabalho em drenar aquela área, que era um chavascal enorme. O atual prefeito fez uma maquiagem mal feita, retirou a placa de inauguração e colocou a sua própria, dando a entender que quem fez foi ele. Vagner nega a autoria da obra do maior prefeito da cidade".
A praça que custou 3 milhões e meio de reais e demorou seis meses para ser construída tem sido objeto de polêmica e ironia entre a população.
Apelidos jocosos como: "Praça do Posto Ipiranga" (devido ao formato quadrado, lembrando de fato um posto de gasolina) ou "Praça Patati Patata" (pelas cores escolhidas à esmo) já se popularizaram através das redes sociais.
Mesmo funcionários de confiança do prefeito já admitem, às escondidas, que a praça "poderia ter ficado melhor"
"Durante meu mandato como prefeito, também houve uma revitalização. Mas a placa e o aspecto original da praça foram mantidos. Tampouco se sabe o que foi feito com o obelisco (também chamado "marco zero"). O obelisco homenageava os imigrantes nordestinos, sírio-libaneses e alemães que ajudaram a construir em Cruzeiro do Sul.
O homem que briga com estátuas
Vagner Sales tem sido pródigo em brigar com o próprio passado da cidade. Sua primeira ação como prefeito de Cruzeiro do Sul foi a retirada da estátua de Marechal Thaumaturgo, comemorativa dos 100 anos da cidade. No local, foi feito um estacionamento.
O Posto de Saúde Manoel Bezerra da Cunha também teve seu nome apagado do letreiro central e passou a se chamar apenas "Centro de Atendimento da 25 de Agosto". O nome original do posto aparece hoje apenas nas laterais, em uma pintura antiga. O posto é considerado uma das príncipais marcas da administração de Aluísio Bezerra, na época, do mesmo PMDB de Sales.
"É de um mau gosto extraordinário", dispara.
Mas as críticas não se limitam ao aspecto burlesco da obra. Para César Messias, por trás da aparente "homenagem" à Orleir Cameli, há uma tentativa deliberada de apagar e reescrever a história de Cruzeiro do Sul.
"O verdadeiro autor daquela obra, é Orleir Cameli. Orleir teve muito trabalho em drenar aquela área, que era um chavascal enorme. O atual prefeito fez uma maquiagem mal feita, retirou a placa de inauguração e colocou a sua própria, dando a entender que quem fez foi ele. Vagner nega a autoria da obra do maior prefeito da cidade".
A praça que custou 3 milhões e meio de reais e demorou seis meses para ser construída tem sido objeto de polêmica e ironia entre a população.
Apelidos jocosos como: "Praça do Posto Ipiranga" (devido ao formato quadrado, lembrando de fato um posto de gasolina) ou "Praça Patati Patata" (pelas cores escolhidas à esmo) já se popularizaram através das redes sociais.
Mesmo funcionários de confiança do prefeito já admitem, às escondidas, que a praça "poderia ter ficado melhor"
"Durante meu mandato como prefeito, também houve uma revitalização. Mas a placa e o aspecto original da praça foram mantidos. Tampouco se sabe o que foi feito com o obelisco (também chamado "marco zero"). O obelisco homenageava os imigrantes nordestinos, sírio-libaneses e alemães que ajudaram a construir em Cruzeiro do Sul.
O homem que briga com estátuas
Vagner Sales tem sido pródigo em brigar com o próprio passado da cidade. Sua primeira ação como prefeito de Cruzeiro do Sul foi a retirada da estátua de Marechal Thaumaturgo, comemorativa dos 100 anos da cidade. No local, foi feito um estacionamento.
O Posto de Saúde Manoel Bezerra da Cunha também teve seu nome apagado do letreiro central e passou a se chamar apenas "Centro de Atendimento da 25 de Agosto". O nome original do posto aparece hoje apenas nas laterais, em uma pintura antiga. O posto é considerado uma das príncipais marcas da administração de Aluísio Bezerra, na época, do mesmo PMDB de Sales.
domingo, 12 de outubro de 2014
Marina “El Cid” Silva
Todo espanhol que se preze conhece a história de El Cid.
O cavaleiro que liderou as tropas cristãs contra os
sarracenos teve uma biografia conturbada.
Conta-se que “El Cid” mudou de lado algumas vezes e teria
lutado também ao lado dos sarracenos contra os cristãos. As razões que o
levaram a isto são até hoje são motivos de controvérsias entre os
historiadores.
Dizem, por exemplo que “El Cid” não recebeu dos reis de “La
Mancha” aquilo que achava que era o seu merecido valor em batalha.
Outros afirmam que “El Cid” almejava mais do que dinheiro e
que pretendia tornar-se senhor de uma parte da Península Ibérica ou quem sabe,
mesmo Rei.
Há até quem imagine que “El Cid” sonhava criar um reino onde
cristão e sarracenos pudessem conviver, na magnífica civilização criada pelos
Almorávidas.
O fato é que as últimas batalhas de “El Cid” foram travadas
ao lado dos cristãos. O respeito que inspirava nas
tropas, bem como o temor que causava nos inimigos, o tornaram uma figura
lendária.
Conta a história que travou sua última batalha, morto. E
Venceu.
Sabendo o significado de ter “El Cid” montado em seu cavalo,
os cristãos teriam atado seu corpo morto de tal modo que pudesse segurar o
estandarte que defendia.
Resultado: vitória dos cristãos!
Encontro paralelo entre a trajetória de Marina com a de “El
Cid” motivos.
Primeiro, a óbvia polarização entre tucanos e petistas, que
já vem arrastando o país numa interminável guerra de valores, onde “bons” e
“maus” encontram-se dos dois lados da trincheira.
Segundo, por ter um projeto próprio de país, que não é o dos
“sarracenos” nem o dos “cristãos”, mas de um país que possa existir para todos,
independente de suas diferenças.
Por último, por perceber que Marina, mesmo depois de “morta”
na disputa eleitoral continua portando o estandarte das causas indígenas e
ambientais com a mesma galhardia.
E ainda é capaz de decidir uma batalha.
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
A jornalista presa e o "barbosismo"
Há alguns dias venho tentando decifrar o episódio ocorrido com a colega jornalista Jaqueline Teles.
Detida no domingo de eleição sob a acusação de "transporte ilegal de eleitores", a jornalista foi encaminhada à unidade prisional feminina, onde passou a noite em uma cela, e liberada somente após apresentação de alvará de soltura, no dia seguinte, pela manhã.
Ainda que tudo tenha transcorrido "dentro da lei", uma análise dos fatos transcorridos neste dia, me levam a crer que houve excessos de um lado e tolerância demais, de outro.
Jaqueline é comunista. Milita no PCdoB deste a adolescência, trabalha em uma secretaria de governo cuja cota pertence ao PCdoB, exatamente como prevêem as regras do jogo democrático.
No dia "Jackie", como é chamada pelos colegas, de fato transportava uma amiga sua de infância, igualmente comunista, e com dificuldade de locomoção, e mais três vizinhos, que segundo a mesma votariam na mesma sessão eleitoral.
Segundo um dirigente da UJS, os três vizinhos também fariam parte da entidade jovem, ou seja, não se encaixavam de modo algum no perfil de eleitores que pudessem ser aliciados no dia da eleição. Eram votos seguros de militantes.
Este me parece que seja o objetivo principal da lei que proíbe o transporte de eleitores: evitar o aliciamento.
Pelas regras específicas vigentes no dia das eleições Jackie errou. Não questiono o fato de ela ter sido detida e nem que ela pague pelo seu erro. Contudo, a maneira como tudo transcorreu nesse dia, é no mínimo, suspeitoso.
Primeiro
Por que, em meio a tantos outros detidos que foram liberados antes do final do dia, outros que foram liberados após as eleições, alguns inclusive por compra de voto, Jaqueline Teles, a comunista, foi encaminhada a unidade prisional feminina? O recado era claro: fazer a prisão da jornalista "vermelha"um exemplo de combate à "corrupção" e ao "aparelhamento do estado".
Segundo
Por que neste mesmo dia, internautas publicaram nas redes sociais, fotos do prefeito acompanhado da primeira-dama candidata, igualmente adesivados passeando livremente entre eleitores nas sessões?
Terceiro
Na noite anterior à eleição, carros de campanha lançaram nas portas das sessões eleitorais, milhares de "santinhos", em flagrante desrespeito à legislação eleitoral. É óbvio que a volumosa presença deste material de campanha pode sim, influenciar a decisão do eleitor, em especial aqueles menos esclarecidos, ou que simplesmente ainda não tenham decidido seu voto.
O "lixo eleitoral" permaneceu intocável durante todo o dia das eleições. Quando tive a oportunidade de questionar a juíza responsável pela 4 Zona Eleitoral sobre o derrame ilegal de material de campanha, a mesma afirmou, durante entrevista que já havia pactuado com o chefe de gabinete do prefeito que o mesmo providenciaria a retirada do material na segunda feira pela manhã.
Aparentemente, à juíza importava apenas o aspecto "lixo"da questão e menos o aspecto "eleitoral". Na sua avaliação, o material derramado não seria capaz de influenciar na decisão do eleitor.
Ocorre que, horas antes, nos minutos que antecediam o início da votação, quase que no exato momento em que a repórter pelo rádio aponta o problema do "lixo eleitoral", surge uma mensagem no celular do colega ao lado do mesmo chefe de gabinete da prefeitura com quem a juíza pactou a retirada do material somente para o dia seguinte.
A mensagem do chefe de gabinete do prefeito, pressionava o colega para que o mesmo não deixasse eu me pronunciar sobre o "lixo eleitoral".
O sentimento geral é de que para uns foram aplicados os "rigores da lei", enquanto para outros, "os favores da lei". A escolha de dar maior ou menor importância às denúncias, é totalmente subjetivo, e é justamente aí que se revela o chamado "barbosismo".
"Barbosismo"
Diante destes fatos sobra ainda a mais ululante obviedade de que não é fácil fazer uma desconhecida em sua própria terra receber votos até em Santa Rosa do Purus e Jordão.
Some a isso, uma obra inacabada de custo exarcebado (3,5 milhões), onde faltou a decência de instalar mictórios por ocasião da inauguração. Enquanto isso, o material de campanha da candidata "oficial"da prefeitura ganha um tom onipresente nas ruas da cidade.
Circunstâncias destas bastariam para que qualquer autoridade interessada em promover eleições limpas, ficasse de "orelha em pé".
Mas, por alguma razão, nada disso despertou a subjetividade adormecida da juíza.
A desconfiança, que deveria ter sido distribuída em igual medida para pelo menos dois dos três campos políticos (o grupo de Bocalom não tinha dinheiro, e foi, na minha avaliação, o maior prejudicado), concentrou-se em apenas um.
Não creio, como muitos afirmaram no dia, que tenha havido a "compra" do TRE. Acredito mais na hipótese do "barbosismo" nas instituições brasileiras.
Explico
A passagem de Joaquim Barbosa pelo Supremo tornou-o um bastião da luta contra a corrupção para milhões.
O símbolo de um "Batman" lutando contra a corrupção é extremanente poderosa e catalizadora dos anseios dos brasileiros.
Contudo, o "mito" em torno de Joaquim Barbosa esconde uma falácia extremamente danosa à democracia: a idéia de que a corrupção em nosso país, é obra de um partido, especificamente o PT.
A desconfiança de que esta ideia tenha sido disseminada deliberadamente, é plausível, já que o mesmo "Barbosão" que foi inclemente com os supostos mensaleiros, arredou o pé do Supremo antes de julgar o crime análogo cometido pelos tucanos.
Em todo Brasil generalizou-se o sentimento de que ao se combater o PT, estaria-se imediatamente combatendo a corrupção no país.
Entre os eleitores, consolidou-se a ideia que para combater a corrupção, bastaria se votar nos partidos adversários ao PT.
Entre as instituições, há evidências de que por vezes são cometidos excessos em nome do "combate à corrupção", transformado agora em perseguição partidária, muito útil aos adversários do partido, mas como já falei, danosa à democracia.
No Estado do Acre não há exemplo maior de "barbosismo" que a famigerada "Operação G7". A operação deflagrada pela Polícia Federal lançou sombras de dúvidas sobre dezenas de gestores, inclusive sobre o mandatário do executivo, mas não foi capaz de responder nenhuma das dúvidas que levantou antes do período eleitoral.
Isso significa dizer que a PF, com a sua estriônica "Operação G7", até o momento não conseguiu nada além de municiar a oposição com "suspeitas" não respondidas que apenas servirão de base para material panfletário.
Das duas uma: ou a PF age de modo irresponsável em suas açoes midiáticas, ou é deliberadamente golpista (ou "barbosista").
Acredito que este mesmo sentimento de que "combater o PT (e todos os "vermelhos") é combater a corrupção" tenha se enraizado principalmente entre a jovem magistratura brasileira, tomada de um sincero anseio de livrar o país de um de seus maiores males, a corrpução, mas ao mesmo tempo, vítima de uma concepção equivocada: a de que a corrupção seja um fenômeno partidário.
No mais recente episódio de golpe da América Latina, movido contra o presidente de Honduras, houve uma articulação jurídico-militar que sob a acusação de corrupção, depôs o presidente Zelaya.
É mais do que evidente que atores semelhantes tentaram mover algo neste sentido durante as manifestações de junho. Felizmente, os brasileiros não embarcaram na onda. Contudo, agora em plenas eleições, há movimento nos tabuleiros, e multiplicado em milhares, o arquétipo do "batman togado" parece novamente se lançar contra o "perigo vermelho".
O resultado final, é a proliferação entre policiais federais, promotores e magistrados, de uma subjetividade propensa a uma "caça às bruxas vermelhas", movidas pelos mais puros sentimentos de "restauração da ordem democrática"e "combate à corrupção".
Em última análise, o "barbosismo"não deixa de ser também, um aparelhamento ideológico do estado, muito útil a um grupo politico específico.
Detida no domingo de eleição sob a acusação de "transporte ilegal de eleitores", a jornalista foi encaminhada à unidade prisional feminina, onde passou a noite em uma cela, e liberada somente após apresentação de alvará de soltura, no dia seguinte, pela manhã.
Ainda que tudo tenha transcorrido "dentro da lei", uma análise dos fatos transcorridos neste dia, me levam a crer que houve excessos de um lado e tolerância demais, de outro.
Jaqueline é comunista. Milita no PCdoB deste a adolescência, trabalha em uma secretaria de governo cuja cota pertence ao PCdoB, exatamente como prevêem as regras do jogo democrático.
No dia "Jackie", como é chamada pelos colegas, de fato transportava uma amiga sua de infância, igualmente comunista, e com dificuldade de locomoção, e mais três vizinhos, que segundo a mesma votariam na mesma sessão eleitoral.
Segundo um dirigente da UJS, os três vizinhos também fariam parte da entidade jovem, ou seja, não se encaixavam de modo algum no perfil de eleitores que pudessem ser aliciados no dia da eleição. Eram votos seguros de militantes.
Este me parece que seja o objetivo principal da lei que proíbe o transporte de eleitores: evitar o aliciamento.
Pelas regras específicas vigentes no dia das eleições Jackie errou. Não questiono o fato de ela ter sido detida e nem que ela pague pelo seu erro. Contudo, a maneira como tudo transcorreu nesse dia, é no mínimo, suspeitoso.
Primeiro
Por que, em meio a tantos outros detidos que foram liberados antes do final do dia, outros que foram liberados após as eleições, alguns inclusive por compra de voto, Jaqueline Teles, a comunista, foi encaminhada a unidade prisional feminina? O recado era claro: fazer a prisão da jornalista "vermelha"um exemplo de combate à "corrupção" e ao "aparelhamento do estado".
Segundo
Por que neste mesmo dia, internautas publicaram nas redes sociais, fotos do prefeito acompanhado da primeira-dama candidata, igualmente adesivados passeando livremente entre eleitores nas sessões?
Terceiro
Na noite anterior à eleição, carros de campanha lançaram nas portas das sessões eleitorais, milhares de "santinhos", em flagrante desrespeito à legislação eleitoral. É óbvio que a volumosa presença deste material de campanha pode sim, influenciar a decisão do eleitor, em especial aqueles menos esclarecidos, ou que simplesmente ainda não tenham decidido seu voto.
O "lixo eleitoral" permaneceu intocável durante todo o dia das eleições. Quando tive a oportunidade de questionar a juíza responsável pela 4 Zona Eleitoral sobre o derrame ilegal de material de campanha, a mesma afirmou, durante entrevista que já havia pactuado com o chefe de gabinete do prefeito que o mesmo providenciaria a retirada do material na segunda feira pela manhã.
Aparentemente, à juíza importava apenas o aspecto "lixo"da questão e menos o aspecto "eleitoral". Na sua avaliação, o material derramado não seria capaz de influenciar na decisão do eleitor.
Ocorre que, horas antes, nos minutos que antecediam o início da votação, quase que no exato momento em que a repórter pelo rádio aponta o problema do "lixo eleitoral", surge uma mensagem no celular do colega ao lado do mesmo chefe de gabinete da prefeitura com quem a juíza pactou a retirada do material somente para o dia seguinte.
A mensagem do chefe de gabinete do prefeito, pressionava o colega para que o mesmo não deixasse eu me pronunciar sobre o "lixo eleitoral".
O sentimento geral é de que para uns foram aplicados os "rigores da lei", enquanto para outros, "os favores da lei". A escolha de dar maior ou menor importância às denúncias, é totalmente subjetivo, e é justamente aí que se revela o chamado "barbosismo".
"Barbosismo"
Diante destes fatos sobra ainda a mais ululante obviedade de que não é fácil fazer uma desconhecida em sua própria terra receber votos até em Santa Rosa do Purus e Jordão.
Some a isso, uma obra inacabada de custo exarcebado (3,5 milhões), onde faltou a decência de instalar mictórios por ocasião da inauguração. Enquanto isso, o material de campanha da candidata "oficial"da prefeitura ganha um tom onipresente nas ruas da cidade.
Circunstâncias destas bastariam para que qualquer autoridade interessada em promover eleições limpas, ficasse de "orelha em pé".
Mas, por alguma razão, nada disso despertou a subjetividade adormecida da juíza.
A desconfiança, que deveria ter sido distribuída em igual medida para pelo menos dois dos três campos políticos (o grupo de Bocalom não tinha dinheiro, e foi, na minha avaliação, o maior prejudicado), concentrou-se em apenas um.
Não creio, como muitos afirmaram no dia, que tenha havido a "compra" do TRE. Acredito mais na hipótese do "barbosismo" nas instituições brasileiras.
Explico
A passagem de Joaquim Barbosa pelo Supremo tornou-o um bastião da luta contra a corrupção para milhões.
O símbolo de um "Batman" lutando contra a corrupção é extremanente poderosa e catalizadora dos anseios dos brasileiros.
Contudo, o "mito" em torno de Joaquim Barbosa esconde uma falácia extremamente danosa à democracia: a idéia de que a corrupção em nosso país, é obra de um partido, especificamente o PT.
A desconfiança de que esta ideia tenha sido disseminada deliberadamente, é plausível, já que o mesmo "Barbosão" que foi inclemente com os supostos mensaleiros, arredou o pé do Supremo antes de julgar o crime análogo cometido pelos tucanos.
Em todo Brasil generalizou-se o sentimento de que ao se combater o PT, estaria-se imediatamente combatendo a corrupção no país.
Entre os eleitores, consolidou-se a ideia que para combater a corrupção, bastaria se votar nos partidos adversários ao PT.
Entre as instituições, há evidências de que por vezes são cometidos excessos em nome do "combate à corrupção", transformado agora em perseguição partidária, muito útil aos adversários do partido, mas como já falei, danosa à democracia.
No Estado do Acre não há exemplo maior de "barbosismo" que a famigerada "Operação G7". A operação deflagrada pela Polícia Federal lançou sombras de dúvidas sobre dezenas de gestores, inclusive sobre o mandatário do executivo, mas não foi capaz de responder nenhuma das dúvidas que levantou antes do período eleitoral.
Isso significa dizer que a PF, com a sua estriônica "Operação G7", até o momento não conseguiu nada além de municiar a oposição com "suspeitas" não respondidas que apenas servirão de base para material panfletário.
Das duas uma: ou a PF age de modo irresponsável em suas açoes midiáticas, ou é deliberadamente golpista (ou "barbosista").
Acredito que este mesmo sentimento de que "combater o PT (e todos os "vermelhos") é combater a corrupção" tenha se enraizado principalmente entre a jovem magistratura brasileira, tomada de um sincero anseio de livrar o país de um de seus maiores males, a corrpução, mas ao mesmo tempo, vítima de uma concepção equivocada: a de que a corrupção seja um fenômeno partidário.
No mais recente episódio de golpe da América Latina, movido contra o presidente de Honduras, houve uma articulação jurídico-militar que sob a acusação de corrupção, depôs o presidente Zelaya.
É mais do que evidente que atores semelhantes tentaram mover algo neste sentido durante as manifestações de junho. Felizmente, os brasileiros não embarcaram na onda. Contudo, agora em plenas eleições, há movimento nos tabuleiros, e multiplicado em milhares, o arquétipo do "batman togado" parece novamente se lançar contra o "perigo vermelho".
O resultado final, é a proliferação entre policiais federais, promotores e magistrados, de uma subjetividade propensa a uma "caça às bruxas vermelhas", movidas pelos mais puros sentimentos de "restauração da ordem democrática"e "combate à corrupção".
Em última análise, o "barbosismo"não deixa de ser também, um aparelhamento ideológico do estado, muito útil a um grupo politico específico.
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
Mais Escolas ou Mais Presídios
Não é de hoje que setores da imprensa semeiam na opinião
pública a ideia de que jovens que cometem crimes entre 16 e 18 anos deveriam
pagar na mesma moeda que os adultos.
A princípio a ideia de que um jovem de 16 anos que mata, rouba
ou trafica já é capaz responder pelos seus atos parece bastante simples e até certa
medida, justa.
Contudo, é preciso analisar a questão um pouco mais a fundo
para tentar compreender o que significaria uma redução da maioridade penal.
A grosso modo seria responder que jovens entre 16 e 18 anos
que hoje cumprem medidas sócio-educativas iriam, obrigatoriamente para uma
prisão comum.
Acredito que o microcosmo de Cruzeiro do Sul, nos fornece
dados interessantes sobre a situação da nossa juventude e o que significaria a
sua criminalização.
Alguns dados
Alguns dados
No Instituto Sócio –Educativo (ISE) cumprem medida
sócio-educativa hoje, 56 adolescentes entre 12 a 18 anos.
Destes 56, 27 deles praticaram roubo de pequenos objetos e
outros 8, furto. Na maioria deles trata-se de roubo de celulares
Segundo a assistência social e psicológica da unidade, todos
estes crimes estão relacionados à dependência química, ou seja: furtos e roubos
para manutenção do vício.
Ainda segundo a unidade, são estes menores infratores que
apresentam o maior índice de reincidência, isto porque, enquanto não for sanada
a questão da dependência química, é certo que virão a ser praticados novamente
os mesmos crimes.
Crimes Hediondos
Uma proposta aparente mais moderada prevê a redução de
maioridade penal para quem cometer crimes hediondos.
No ISE de Cruzeiro do Sul, entre os 56 adolescentes, há apenas
4 casos de homicídio. Dois simples e dois qualificados.
A direção da unidade explicou que não há motivação específica
para o homicídio e muito ao menos premeditação. Em todos os casos, o menor teria
agido sob forte emoção e por uma fatalidade, encontrado em seu alcance uma arma.
O mais surpreendente contudo, é que no caso de homicídios praticados
por menores, o índice de reincidência é próximo a zero. Ou seja, são justamente
os menores que cometem homicídios os que apresentam o melhor índice de recuperação.
O que significaria colocar estes jovens “atrás da grades”?
Em prisões comuns, quais seriam as chances de ressocialização
destes jovens e quais as chances de se tornarem “mestres do crime”?
Tráfico de Drogas
É importante lembrar que no Brasil, tráfico de drogas é
qualificado como crime hediondo, o que significaria, prender jovens de 16 anos
com envolvimento no tráfico. Sabe aquele garto que “vende uma parada” às vezes
para sustentar o próprio vício, ou porque simplesmente não teve outra chance? Pois
sim, pela proposta de redução da maioridade penal para crimes hediondos, este jovem
iria para a prisão, com chances mínimas de reabilitação.
Impunidade
A ideia popularizada pela imprensa de que o jovem infrator não é responsabilizado pelos seus atos, não corresponde à realidade.
O ECA prevê as chamadas medidas sócio educativas que podem variar desde uma simples advertência, passando pela reparação do dano e prestação de serviços comunitários até a internação por até três anos.
Apresentadores de programas policiais nas TV afirmam, faltam com a verdade ao afirmar que um jovem que comete um crime grave aos 17 anos, é solto imediatamente ao cumprir 18 anos.
Isso não é verdade.
O jovem pode passar até os 21 anos em medida privativa de liberdade. Caso cometa um crime, dentro da unidade, já com mais de 18 anos, também irá responder como adulto.
Superlotação
Superlotação
A Unidade Penitenciária de Cruzeiro do Sul atualmente conta
com um efetivo carcerário de 550 presos, sendo que dispõe de 224 vagas, ou
seja um défit 326 vagas. Atualmente as celas que foram planejadas para 2
presos, abrigam uma média de 5 presos.
Com esse problema de superlotação, são inevitáveis surgirem
problemas de ordem estrutural, elétrico e na rede de esgoto, pois um prédio
planejado para determinado número de usuários, sendo dobrado essa lotação, o
que se foi projetado não suporta.
Com uma redução na maioridade penal haveria o agravamento da superlotação já existente.
Não seriam apenas 56 jovens a mais na penal. Teriam de ser incluídos aqueles que hoje cumprem medida no CREAS, ou seja, em liberdade.
Não seriam apenas 56 jovens a mais na penal. Teriam de ser incluídos aqueles que hoje cumprem medida no CREAS, ou seja, em liberdade.
Mais Escola
Uma análise nos dados do ISE de Cruzeiro do Sul também
aponta que a solução pode não ser o encarceramento da juventude, mas a sua
escolarização.
70% dos jovens que cumprem medida no ISE, não chegaram a
concluir o ensino fundamental. Alguns deles, jovens de 17 anos estão se alfabetizando
somente agora, durante cumprimento de medida restritiva de liberdade.
O custo de manutenção de um jovem no ISE é próximo de 2 mil reais.
Segundo dados publicados em matéria do jornal “O Globo”, um
preso chega a custar 21 mil reais para o estado brasileiro, nove vezes o que é
gasto com um estudante.
Na outra ponta estão aqueles que defendem o ensino em tempo integral
como forma de ampliar o acesso à educação, cultura, lazer e esporte, e
consequentemente, uma diminuição da criminalidade entre os jovens.
Certamente que os investimentos para viabilizar o ensino
integral em caráter universal para nossa juventude demandariam grandes somas em
dinheiro, mas ainda seriam menores do que as somas exigidas para o
encarceramento desta mesma juventude.
Uma análise fria da situação nos permite afirmar com boa dose
de assertividade que a redução da maioridade penal além de fazer parte de um
ideário ultrapassado, é sobretudo, uma medida cara e ineficaz de combate à
criminalidade.
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Chico Mendes: ambientalista ou sindicalista?
Em recente nota, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Xapuri defende que Chico Mendes teria sido um sindicalista, e não um
ambientalista. Para o STR, a associação de Chico Mendes a causa ambiental teria
sido um equívoco perpetuado através da imprensa e mais precisamente, a internacional.
Quando Chico Mendes realizava os famosos “empates” estava na
verdade defendendo os seringueiros e não exatamente a floresta. No entanto,
defender os seringueiros naquele momento significava sobretudo, impedir o
avanço dos tratores que traziam a expansão da frente agropecuária no Acre.
Considero legítimo afirmar que o movimento ambientalista
internacional, apropriou-se desta luta, inicialmente sindical e trabalhista
para transformá-la em sua própria bandeira. Mas é igualmente legítimo afirmar
que Chico Mendes também apoiou-se no movimento ambientalista internacional para
que sua voz fosse ouvida, já que na época, tanto a imprensa local quanto
nacional deram pouca ou nenhuma importância à luta dos seringueiros acreanos.
Não consigo visualizar no horizonte qualquer outra
instituição com mais legitimidade para falar de Chico Mendes que o STR de
Xapuri. Contudo, creio que o legado de Chico Mendes tenha ultrapassado os
limites de uma luta sindical, para colocar-se como uma nova possível reflexão de mundo.
Esta reflexão em que causas sociais unem-se à causa ambiental
não poderia surgir, por exemplo, no ABC paulista, onde os trabalhadores tiram
seu sustento das linhas de produção da indústria automotiva. Não poderia também
surgir na social-democrata Alemanha, onde a militância das causas ambientais parte
principalmente de setores urbanos com garantias sociais ainda inimagináveis aos
trabalhadores brasileiros.
O Acre é afinal de contas, um grande celeiro e laboratório
político capaz de produzir reflexões que até então estiveram ausentes do debate
político. A temática ambiental e indígena tem sido tratada de maneira quase que
pueril pela classe política. Esquerda e direita tradicionais ainda não foram
capazes de formular a questão sem sair do nível de abstração. A julgar pela
maneira com que o tema vem sendo tratado: “floresta” é uma espécie de entidade
mitológica como o curupira e o mapinguari.
Não se leva em conta, por exemplo, que continuidade do atual modelo de desenvolvimento poderá entre outras coisas, colapsar inclusive o sacro-santo agronegócio da soja, com uma eventual e provável mudança climática que altere o regime de chuvas.
O propalado "desenvolvimento" não leva em conta que, objetivamente, algumas centenas de milhares de pessoas vivem da exploração direta dos peixes dos rios, e da subsistência do que a terra é capaz de produzir, em condições de vida melhores, por exemplo, de que os sub-empregos criados pela indústria e pelo agronegócio.
Não se leva em conta, por exemplo, que continuidade do atual modelo de desenvolvimento poderá entre outras coisas, colapsar inclusive o sacro-santo agronegócio da soja, com uma eventual e provável mudança climática que altere o regime de chuvas.
O propalado "desenvolvimento" não leva em conta que, objetivamente, algumas centenas de milhares de pessoas vivem da exploração direta dos peixes dos rios, e da subsistência do que a terra é capaz de produzir, em condições de vida melhores, por exemplo, de que os sub-empregos criados pela indústria e pelo agronegócio.
Não carrego grandes ilusões com relação à Marina Silva. A
mulher tem mais contradições que os rios acreanos têm curvas. E que bom que
seja assim.
Com a Dilma, temos a certeza de que continuarão os tratores
a devorar a Amazônia, construindo hidrelétricas que servem principalmente para
pagar dívidas de campanha. Tenho a certeza de que com Dilma, logo estarão aqui pelo
meu Juruá perfurando petróleo. Com a Dilma, tenho certeza que meus amigos,
minha família Yawanawá não terão o restante de sua terra completamente demarcada,
bem como deve continuar andando a passo de jabuti a demarcação de outras tantas
terras indígenas no Acre e fora dele.
Também não há certeza alguma de que com Marina isso venha
ser diferente. Os atores em cena continuarão os mesmos, mas talvez haja uma
nova distribuição de cartas. Talvez os movimentos sociais hoje calados por medo
ou conveniência, possam de fato se manifestar e fazer a diferença nas ruas, no
campo e na floresta.
As dúvidas trazidas por Marina Silva me apetecem mais que as
indigestas certezas que Dilma carrega.
Elite
A polêmica toda em relação ao uso do termo “elite” por Marina
Silva para se referir a Chico Mendes me parece conversa de surdos, coisa de
gente que realmente não faz questão de
ouvir o que o outro tem para dizer.
Marina claramente fez uma desconstrução do termo “elite”,
tal qual vem sendo empregado especialmente pelos setores ligados ao PT e à dita
esquerda tradicional.
“Elite” não se restringe á elite econômica, tal qual sempre
quiseram tanto os banqueiros da avenida paulista, quanto os sindicalistas do
ABC que o combatem.
O termo elite é mais amplo e basta uma espiada no dicionário
para constatar tal coisa. Lenin não nos fala sobre a construção de uma “elite
revolucionária”?
Elite é também sinônimo de vanguarda. São aqueles que vão à
frente, pelo destemor aos perigos e amor as ideias que os conduzem.
Elite é também um qualificante. E qualidade aí não se
restringe ao conceito burguês de eficiência perante o “mercado”. É possível ser
elite “apesar” do mercado. É possível ser elite sem um tostão no bolso. E assim
são as centenas ou talvez milhares de professores brasileiros que não são
reconhecidos pelo “mercado”. Aliás, na sociedade industrial o mercado prefere o
mainstream, o pasteurizado, o igual, porque vende mais.
Elite são as parteiras do Alto Juruá. É a dona Maria que
cura dor de barriga com erva e reza. É o seu “Zeca Diabo” do bairro do cruzeirinho
que levanta uma casa e muda ela de lugar. É a dona Tereza que decora uma casa com
palha e talo de buriti. É o seu João do Miritizal que faz canoa na mata e a
dona Francisca, que quando a canoa não serve mais pra navegar, produz verdura
em cima dela.
Meu velho pajé Yawaraní de mais de 100 anos, erudito remanescente
de uma cultura ameaçada pelos mirabolantes projetos de desenvolvimento na
Amazônia, é parte da “elite” que nem o Brasil do
Mercado e nem o Brasil do Estado
foram capazes de enxergar.
Marina vai enxergá-los? Não sei. É mais uma dúvida, mas uma dúvida
ainda é bem melhor que as certezas de Dilma.
* Na foto Chico Mendes sorri ao lado de sua bela esposa Ilzamar Mendes. Ilzamar recentemente concedeu entrevista sobre Marina Silva.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Arimatéia: "O negro não veio aprender a trabalhar no Brasil, ele veio ensinar"
Em entrevista no Programa Juruá Notícias, o professor José
de Arimatéia deu uma verdadeira aula sobre a importância da cultura afro no
Brasil.
Em Cruzeiro do Sul para organização do I Encontro de Cultura
Afro, José de Arimatéia, representante da CERNEGRO (CENTRO de Referência da
Cultura Afro no ACRE) e da Secretaria estadual de Direitos Humanos falou sobre
os objetivos do encontro.
“Nossa intensão é pegar as sementes do que existe de cultura
afro no Juruá e fortalecer.
Entendemos que a cultura afro tem que deixar de ser apenas folclore
e lembrar apenas nos dias 13 de maio e 20 de novembro. Queremos que esta
cultura seja constante, e isso tem que ser fomentado pelo poder público. Saúde e
educação, segurança e obras públicas são papel do estado, mas cultura também é um
preceito constitucional. Isso só é válido quando é local, não queremos importar
nada, por isso somos parceiros de entidades que já existem aqui.”
JN
- Hoje se fala muito da violência contra o negro. No Brasil,
os maiores índices de violência atinge principalmente jovens negros, moradores
das periferias. E a cultura negra também
sofre violência simbólica?
“Sim, até porque o dominado não conta sua historia.
O negro que veio escravizado dentro do navio era produto de
guerra. Ali haviam nobres, generais, médicos. Haviam cristãos inclusive, porque
cristãos foram sim escravizados. Na África foi construída a primeira catedral
cristã.
Julga-se que eram pessoas que não sabiam nada. Vieram para o
trabalho braçal. No entanto a cultura econômica brasileira veio naqueles navios
negreiros. O problema é pensar a cultura negra somente como folclore.
A criação de gado, por exemplo. Quem trouxe o sistema de criação
extensiva de gado foram os negros, já que na Europa, havia a criação intensiva,
em pequenos espaços.
Boi-bumbá, Sinhazinha, negrinho do pastoreio, são elementos que
estão no folclore, mas que vieram desta cultura econômica trazida da África. Desta
cultura afro de cuidar de gado.
O negro não veio aprender a cuidar do gado, ele veio ensinar.
O negro veio para o Brasil para trabalhar na mineração, mas ele não veio aprendera
tirar ouro, ele veio ensinar, porque já existia esta cultura da mineração na África.
A fundição brasileira, também veio de lá.
O negro não veio aprender, veio ensinar.
Mas quando se fala de negro, se pensa logo em feijoada,
capoeira e samba. Estes são elementos essenciais na nossa cultura, na África,
também tínhamos festas. Agora folclorizar e reduzir, isso é o problema. É não
entender a cultura brasileira e tirar dele elementos essenciais.
Saúde
Há dez anos o SUS veio falar de acolhimento. Na cultura
Banto, isso existe há dez mil anos. Porque algumas doenças não são somente do
corpo, mas da mente. Quando se chega numa casa de santo, num terreiro onde uma mãe
de santo, um pai de santo, vai fazer o papel de psicólogo, doutor, alguém que lhe
escuta. Muitas doenças de hoje, é só falta de alguém para te ouvir.
Ubuntu
Empoderamento é uma palavra nova, mas na cultura Banto o
conceito já existe. Vem através da palavra Ubuntu que significa “eu sou o que
eu sou porque nós somos”. Então você tem poder igual a mim. Tenho que dar para
você a mesma chance que eu dou pra mim. Quem dá importância dá poder.
O preconceito neste país é a redução. Reduzir o negro ao
canto à dança.
Muitos inventores foram negros*, mas isso não é interessante
dizer que este povo escravizado o negro contribui com algo mais do que a sua
força braçal
O negro até pouco tempo era retratado só do pescoço pra
baixo: futebol, samba e bunda.
Nós temos cabeça também, a contribuição negra é intelectual."
*Vale a pena conferir a lista de inventores negros no arquivo Geledés
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Amazônia: Território do Colonialismo e do Imperialismo Verde-Amarelo
O simpósio promovido pela Fundação Maurício Grabóis durante o segundo dia da 66ª SBPC, em Rio Branco Acre debateu o tema do desenvolvimento na Amazônia sob diferentes pontos de vista. Participaram do simpósio Aldo Arantes, diretor-presidente do INMA; Ênio Candotti presidente de honra da SBPC e Otávio Alves Velho, antropólogo e cientista político e social, ex-vice-presidente da SBPC.
Colonialismo
Ênio Candotti foi crítico em relação aos megaprojetos de desenvolvimento na Amazônia. Para o cientista, a falta de pesquisa compromete o resultado. Citando mineração e hidrelétricas, Candotti questionou o fato de que estes projetos geram energia e riqueza para uma parte do país, sem que isso, contudo, se reflita em uma significativa melhora no IDH das populações regionais da Amazônia.
“Além da discussão sobre a real necessidade das hidrelétricas, existe uma relação entre poder central e periferia que são típicas de uma relação colonial. A Amazônia é tratada como fonte de matéria-prima para o desenvolvimento do resto do país.”
BRICS
Aldo Arantes tratou do tema da cobiça internacional sobre a Amazônia e da necessidade de um projeto integrado de desenvolvimento que servisse como um elemento de defesa e permita aos brasileiros se apropriarem da riqueza. Aldo citou a carência em pesquisa como um dos obstáculos a serem vencidos. Outro obstáculo seria o capitalismo regional predatório do agronegócio, a quem ,segundo Aldo, não interessaria este desenvolvimento integrado.
Aldo defendeu a retomada do Programa Amazônia Sustentável, do Governo Lula, mas com metas mais claras. Para ele, o novo banco dos BRICS poderia financiar um projeto integrado de desenvolvimento na Amazônia, não apenas no Brasil, mas nos oito países que fazem parte da região.
“A SBPC poderia tomar a frente às negociações com o governo federal para isto”, sugeriu Aldo.
O índio e a esquerda brasileira
O terceiro palestrante foi Otávio Guilherme Alves Velho, Cientista político e Antropólogo.
Otávio chamou a atenção para o fato de que a esquerda brasileira ainda não formulou uma base de pensamento consistente em que as questões indígena e ambiental estejam contempladas. Segundo o antropólogo, nos países vizinhos da América do Sul, há pensadores de esquerda que já avançaram mais nesta discussão e citou o sociólogo peruano Aníbal Quijano. Quijano é um crítico daquilo que chama de visão eurocêntrica da esquerda latino-americana.
“A existência do índio e da questão ambiental podem ter um caráter revolucionário nas bases do nosso pensamento. É um valor que nos obriga a mexer com a nossa visão e a nossa mentalidade.”
Em sua fala, Otávio ampliou o conceito tradicional de soberania, dizendo que o mesmo aplica-se aos direitos dos povos indígenas e tradicionais, em questões como a soberania alimentar, por exemplo.
Imperialismo Verde-Amarelo
O antropólogo chamou a atenção para aquilo que vem sendo chamado de “imperialismo verde-amarelo” em que empresas com base no Brasil reproduzem uma relação imperialista com países e povos da América Latina e da África.
“É preciso ter uma solidariedade com estes povos. Uma noção de solidariedade além da nacional.”
Jornalista lança livro sobre experiência com planta sagrada para indígenas
O jornalista acreano Leandro Altheman lançou, na última quarta-feira, 23, no Memorial dos Autonomistas, em Rio branco, o livro “Muká- A Raiz de um Sonho”.
A obra surgiu de uma experiência que o autor teve com a raiz muká, planta sagrada para o povo Yawanawá, de uso extremamente restrito até mesmo entre os membros da aldeia, sendo reservada para processo de aprendizagem, formação e maturação das lideranças espirituais, os pajés.
“Tive a experiência com o muká durante quatro anos, tempo em que fiz minha formação espiritual na aldeia. Desse período passei três meses isolado. A raiz é mascada e você consome o sumo. Você sonha com muita clareza e a capacidade de concentração aumenta. O efeito é progressivo, vem com o tempo, por isso é importante o isolamento para fazer uma dieta”, explica Leandro Altheman.
O jornalista diz que durante o tempo em que ficou isolado ele fez um diário com as experiências que teve. “O livro surgiu das anotações que eu fazia durante o período em que fiquei na aldeia. Relatei nesse diário os sonhos que eu tive. Daí surgiu a ideia de fazer o livro”.
A obra “Muká- A Raiz de um Sonho” é encontrada nas livrarias Paim, Formato e Nobel, na capital, por de R$ 40. Em Cruzeiro do Sul, também na livraria Paim, o preço é R$35.
sábado, 12 de julho de 2014
A culpa é de Abrãao ?
Um amigo meu, judeu não-praticante, quando perguntado sobre quem
seria de fato o culpado pela crise na Palestina, apontou não para os
mísseis do Hamas, mas em uma direção bem mais improvável.
- A culpa é de Abraão!
Perplexos, perguntamos porque o patriarca que quase imolou
vivo seu filho para a honra de seu Deus, seria o culpado da atual crise.
- Ele comeu a empregada e fez um filho com ela, Ismael, da
qual descendem todos os árabes. Se ele não tivesse feito isso, não existiriam
nem árabes e nem palestinos e todos estariam em paz no oriente.
Para aqueles que gostam de tirar lições morais da bíblia
esta seria certamente uma bastante explícita: não coma sua empregada, ou se
comer, use camisinha.
Rir é uma forma de tirar o poder aparente das coisas. É exatamente o contrário do que o medo faz: dá poder às ilusões.
Se fosse possível deixar
de lado o tema religioso e fazer um esboço meramente geopolítico da situação
minha análise seria simples: O Estado de Israel é a parte mais importante da
política do ocidente para obter hegemonia no oriente médio. Uma colônia européia
e estadunidense no oriente. É assim que os árabes a encaram.
Mais do que isso, o Estado de Israel tal como se propõe é uma
impossibilidade lógica que só pode ser mantida pelas forças das armas e da
ajuda externa (exatamente o caráter de uma colônia). Como estado democrático,
Israel estaria fadado ao fracasso, uma vez que desde sua criação, a população
judaica é minoritária. À força de uma política de estado capaz de deixar saudades do regime de apartheid na África, os judeus vem conseguindo, artificialmente,
manter uma falsa maioria sobre o estado. Para isto, os expedientes utilizados
incluem a expulsão de palestinos de suas casas, a proibição de retornarem para
suas residências quando se ausentam, a proibição, inclusive, da captação de
água da chuva para irrigação.
Enquanto isso, com o apoio da comunidade judaica
internacional, mais e mais colônias vão sendo criadas ao redor de Jerusalém
Oriental (Palestina) e na Cisjordânia e Faixa de Gaza ocupada, em claro
desrespeito às resoluções da ONU.
O Estado de Israel só pode sobreviver desta maneira: como
uma colônia apoiada externamente e com um regime igualmente fundamentalista.
O maior temor dos israelitas é de que uma Israel “democrática”
seria progressivamente assediada e fatalmente varrida pela onda do
fundamentalismo islâmico.
Esta é justamente uma das razões pela qual o tema religioso
não pode ser colocado de lado na questão. E com isso voltamos a Abrãao, “pai” das
três maiores religiões do planeta: judaísmo, cristianismo e islamismo.
O judaísmo é a mais antiga, a raiz das outras duas. O Torah Hebraico e o Pentateuco cristão são praticamente coincidentes.
Os hebreus continuam até hoje esperando a vinda do messias
que iria restaurar a glória da antiga Israel dos tempos de Davi e Salomão. É exatamente
em cima desta promessa que se constrói o sonho do Estado de Israel, portanto a
questão religiosa é de fato, indissociável da geopolítica.
Jesus disse que viria trazer o reino dos céus e recusou a
disputa política necessária para a restauração do “Reino de Israel” e exatamente
por esse motivo teria sido rejeitado pelos judeus.
Para um judeu, Jesus não passa de um mentiroso. Se ele não
veio restaurar Israel, ele não é o filho de Deus e por isso, só pode estar
mentindo. A grosso modo é isso.
Quando, séculos mais tarde surge Maomé, o mesmo declara a
santidade de todos os profetas do passado, inclusive de Jesus. Neste ponto, a
doutrina de Maomé é mais inclusiva que a dos judeus: aceitam Jesus não como Deus, mas como um profeta, um anunciador da palavra. Para os judeus ele não é uma coisa nem
outra, se não, apenas um mentiroso.
Os judeus continuam seguindo sua fé monoteísta. Passaram por
muitos percalços ao longo da história, o que certamente é uma prova de
resistência e lealdade para com sua fé. Mas como eles já são o povo escolhido, significa
também que o resto do mundo pouco importa. É uma fé excludente por definição.
Talvez por isso, a frase dita em tom de brincadeira pelo meu
amigo judeu, reflita de fato, um pensamento comum entre os judeus mais
radicais: os árabes não passam de uma escória que descende de uma “pulada de
cerca de Abrãao”. E como filhos ilegítimos não teriam direito à herança alguma, seja
ela qual for.
Já os islâmicos não rejeitam as anteriores doutrinas abraâmicas
(judaísmo e cristianismo), mas para eles, o Islã, a verdade revelada pelo
profeta, seria uma espécie de “cereja do bolo”, o supra-sumo da revelação divina.
Convenhamos que, se a verdade única repousa em um único Deus,
a doutrina islâmica é mais coerente e mais simples que a cristã. Nada de Pai,
Filho e Espírito Santo. Um Deus só único e pronto. Santos, profetas, Jesus e a Virgem
Maria, todos são dignos de respeito, mas só Alá é Deus. Para eles, tornar-se
islâmico significaria retornar ao estado primordial do homem, de submissão à
vontade divina. Por isso não falam em conversão, mas em reversão ao Islã. É portanto, inclusiva.
Talvez por isso que seja justamente o islamismo, a fé que
mais cresce no mundo.
Mas o que eu acho realmente incrível nisso tudo é o papel
desempenhado pelo cristianismo.
Trata-se de uma fé basicamente grega e latina, ocidental
portanto. Para um bom cristão, Jesus teria abolido completamente o caráter racial
excludente original do judaísmo. A ideia de um Reino de Israel para escolhidos
é substituída pela ideia (mais inclusiva) de um Reino dos Céus, para todos (que
o aceitarem). Mas apesar disso, as referências culturais e civilizatórias continuam sendo provenientes daquela parte do mundo.
É por isso, que para um cristão, o senhor é seu "pastor" e não seu "agricultor", ou seu "minerador", ou seu "pescador", ou seu "caçador". É uma questão de referência civilizatória. É por isso que mesmo na megadiversa Amazônia estamos ainda sujeitos e atrelados a referenciais que surgiram na estéril e desértica Palestina. É por isso que dá vontade de rir e chorar ao mesmo tempo quando algum cristão menos esclarecido vem me dizer que "na bíblia não fala nada sobre a ayahuasca" E que portanto, ela só poderia ser "coisa do diabo".
Bem, também não fala sobre mandioca, açaí ou guaraná, mas conta uma história bem interessante de Moisés conversando com uma planta.
Em outro momento, falarei mais da potencialidade genocida que é tomar referenciais culturais locais por universais e de como isso, entre outras coisas, está de fato, nos levando ao "fim do mundo".
Ao contrário de árabes e judeus não há para o cristão qualquer tipo de ligação
étnica com o patriarca Abrãao. Contudo, seus sacerdotes continuam a proferir
que o fiel, na vida após a morte, encontrará paz no “seio de Abrãao”.
Com tanto lugar no universo, querem te mandar logo para o colo do sujeito que começou com essa confusão toda. Muito consolador.
Fico imaginando, Abrãao, como um sujeito normal, honesto, trabalhador, mas que deu uma escorregada com a empregada, como muitos o fazem até hoje e acabam tendo problema com a paternidade ilegítima.
Em algum lugar do universo vão chegando as almas de judeus e palestinos mortos,e Abraão vai ter que dar um jeito de acolher tanto a ismaelitas quanto israelitas.
Homem, ponha-se no lugar de Abrãao.
E além destes, ainda vão chegando as almas dos cristãos, gregos, latinos, ibéricos, germânicos, anglicanos... Talvez comecem a chegar também negros da África e índios das Américas ... todos terão também de ser acolhidos agora no "seio de Abrãao"
Vendo aquele monte de gente procurando o "Seio de Abrãao", sua mulher, Sara, o olha desconfiada imaginando quão longe pode ter ido a infidelidade do marido. Abrãao advinha o seu pensamento e diz:
- Estes não Sarinha, estes não fui eu...eu juro.
Mulher, ponha-se no lugar de Sara. O que ela diria? Eu imagino que seria algo assim:
-E eles não tem pai, não? Vão procurar o pai de vocês!
(Me diz, se não daria uma bela comédia?)
Mas eles não podem encontrar o pai deles, porque os obrigaram a esquecer seus próprios ancestrais e adotar uma ancestralidade alheia.
Seio de Abrãao!
Se realmente existe vida após a morte, o “seio de Abraão” seria o último lugar que eu gostaria de ir.
Mais tarde eu continuo falando sobre o assunto... em: O Apocalipse nosso de cada dia...
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Sacrifícios Humanos de Maias e Astecas: mais uma mentira da Igreja Católica?
Para antropólogo mexicano, sacrifícios humanos de maias e astecas foram inventados para justificar invasão das Américas.
Seria a primeira vez que a Igreja Católica teria mentido?
Frank Díaz
O MITO dos sacrifícios humanos na Mesoamérica
Antes de cair Tenochtitlan, os espanhóis viveram por dois anos com o povo de Anahuac.
Nenhum espanhol testemunhou sequer um único sacrifício humano neste período.
Todas as referências e desenhos de sacrifícios que aparecem nas crônicas do período provem de relatos anteriores.
Pelas leis espanholas só se podem colonizar outras terras, se os seus habitantes cometerem atos de desumanidade ou considerados anti-naturais, como o canibalismo, o sacrifício humano ou sodomia institucional. Portanto, os colonos deveriam inventar ou exagerar para justificar tais atos, se necessário.
Quando os informantes nativos já cristianizados descobriram que os espanhóis precisavam dessa justificativa, houve uma verdadeira avalanche de relatos de sacrifícios humanos que foram incorporados nas crônicas da segunda metade do século 16.
Assim, os informantes puderam manter uma distância a respeito de sua religião ancestral, mesmo à custa de caluniar os seus próprios avós.
A religião anahuaca era muito simbólica e com base nos princípios do mérito e sacrifício, que são exemplificadas por imagens de morte (como a tradicional imagem cristã da crucificação).
Se alguém está inclinado a obter esta informação, é muito fácil de tomar estes emblemas como literais.
Todas as sociedades tiveram formas para se livrar de criminosos e inimigos militares ou políticos, bem como o combate de gladiadores e ritual de auto-imolação. Nenhum criminoso é "sacrificado" ao escalar uma pirâmide para dar alguma dignidade à sua morte. De modo similar, hoje um infrator "frita" em uma cadeira elétrica ou um morre com cocktail químico.
O que poucas sociedades tiveram é uma instituição projetada especificamente para torturar quem discordou da doutrina oficial: a Inquisição. Além disso, seria impossível encontrar outra empresa além do próprio cristianismo de um caso de sacrifícios humanos tão maciço e sistemático como foram as fogueiras inquisitoriais.
Dois exemplos nos contam a verdade sobre o sacrifício humano na Mesoamérica:
1. Haviam afirmações de que os maias sacrificavam donzelas no cenote (espécie de laguna subterrânea) em Chichen Itza (México). Quando este foi dragado no início do século 20, foram encontrados os restos mortais de 200 pessoas de todas as idades e sexo. Se considerarmos que o local foi habitado pelo menos 10.000 anos atrás, significariam DOIS AFOGAMENTOS POR SÉCULO, o que parece normal para um bem que cota de tamanho.
2. Alguns pesquisadores respeitáveis ainda repetem o mito de que o jogador de bola mesoamericano era sacrificado após a partida. Eles tiram por literais as imagens de decapitados que aparecem em relevos astecas e maias. Os espanhóis muitas vezes frequentaram esse jogo e o descreveram em detalhes, mas nunca registraram um sacrifício.
O tema do sacrifício humano no México antigo é um exagero de antropólogos e um exemplo da hipocrisia da nossa cultura, pronto para destruir cada último vestígio de uma antiga civilização apenas para encobrir a crueldade chocante e ilegalidade da invasão da América.
Frank Diaz
antropólogo
http://diazfrank.blogspot.mx/
Seria a primeira vez que a Igreja Católica teria mentido?
Frank Díaz
O MITO dos sacrifícios humanos na Mesoamérica
Antes de cair Tenochtitlan, os espanhóis viveram por dois anos com o povo de Anahuac.
Nenhum espanhol testemunhou sequer um único sacrifício humano neste período.
Todas as referências e desenhos de sacrifícios que aparecem nas crônicas do período provem de relatos anteriores.
Pelas leis espanholas só se podem colonizar outras terras, se os seus habitantes cometerem atos de desumanidade ou considerados anti-naturais, como o canibalismo, o sacrifício humano ou sodomia institucional. Portanto, os colonos deveriam inventar ou exagerar para justificar tais atos, se necessário.
Quando os informantes nativos já cristianizados descobriram que os espanhóis precisavam dessa justificativa, houve uma verdadeira avalanche de relatos de sacrifícios humanos que foram incorporados nas crônicas da segunda metade do século 16.
Assim, os informantes puderam manter uma distância a respeito de sua religião ancestral, mesmo à custa de caluniar os seus próprios avós.
A religião anahuaca era muito simbólica e com base nos princípios do mérito e sacrifício, que são exemplificadas por imagens de morte (como a tradicional imagem cristã da crucificação).
Se alguém está inclinado a obter esta informação, é muito fácil de tomar estes emblemas como literais.
Todas as sociedades tiveram formas para se livrar de criminosos e inimigos militares ou políticos, bem como o combate de gladiadores e ritual de auto-imolação. Nenhum criminoso é "sacrificado" ao escalar uma pirâmide para dar alguma dignidade à sua morte. De modo similar, hoje um infrator "frita" em uma cadeira elétrica ou um morre com cocktail químico.
O que poucas sociedades tiveram é uma instituição projetada especificamente para torturar quem discordou da doutrina oficial: a Inquisição. Além disso, seria impossível encontrar outra empresa além do próprio cristianismo de um caso de sacrifícios humanos tão maciço e sistemático como foram as fogueiras inquisitoriais.
Dois exemplos nos contam a verdade sobre o sacrifício humano na Mesoamérica:
1. Haviam afirmações de que os maias sacrificavam donzelas no cenote (espécie de laguna subterrânea) em Chichen Itza (México). Quando este foi dragado no início do século 20, foram encontrados os restos mortais de 200 pessoas de todas as idades e sexo. Se considerarmos que o local foi habitado pelo menos 10.000 anos atrás, significariam DOIS AFOGAMENTOS POR SÉCULO, o que parece normal para um bem que cota de tamanho.
2. Alguns pesquisadores respeitáveis ainda repetem o mito de que o jogador de bola mesoamericano era sacrificado após a partida. Eles tiram por literais as imagens de decapitados que aparecem em relevos astecas e maias. Os espanhóis muitas vezes frequentaram esse jogo e o descreveram em detalhes, mas nunca registraram um sacrifício.
O tema do sacrifício humano no México antigo é um exagero de antropólogos e um exemplo da hipocrisia da nossa cultura, pronto para destruir cada último vestígio de uma antiga civilização apenas para encobrir a crueldade chocante e ilegalidade da invasão da América.
Frank Diaz
antropólogo
http://diazfrank.blogspot.mx/
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Cobertura da imprensa local do lançamento do livro "Muká a Raiz dos Sonhos"
Links:
G1:
G1:
Jornalista conta em livro experiência ao usar raiz indígena no AC
TV Juruá:
Site Juruá On Line
Entrevista no semanário Juruá em Tempo
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Lançamento do Livro: "Muká a Raiz dos Sonhos"
Em solenidade nesta sexta-feira, dia 06, às 19:30 acontece o lançamento do livro na Biblioteca Estadual Padre Trindade em Cruzeiro do Sul(AC).
Durante três anos, Leandro Altheman participou de três diferentes etapas da formação espiritual dos pajés do povo yawanawá.
A mais avançada delas trata-se do Muká: uma raiz amarga de utilização restrita mesmo entre os indígenas. Segundo a tradição yawanawá, o Muká teria o poder de ampliar a capacidade de sonhar, aumentando a consciência durante o sonho.
“É através dos sonhos que se reconhecem os elementos simbólicos da espiritualidade, como canções e desenhos que compõe o universo cultural yawanawá”, explica Leandro.
No livro, Leandro Altheman descreve mais de trinta sonhos que teve durante esta formação espiritual. Alguns são como “histórias dentro da história”. O fio narrativo também descreve a relação cotidiana dos yawanawá com a terra, o trabalho, e a vida.
Da Redação do juruaonline
segunda-feira, 19 de maio de 2014
Juiz Federal Eugênio Rosa além de burro, é fariseu
Ao não reconhecer os cultos afro-brasileiros como religiões,
o juiz federal Eugênio Rosa de Araújo, além de provar sua total ignorância sobre
o tema da religião, seu autoritarismo e fundamentalismo, mas também deixa revelar
traços de um flagrante farisaísmo.
Dizer que uma religião para ser reconhecida como tal, deve
obrigatoriamente ter um “texto-base”, significa dizer que o judaísmo e o
cristianismo também não eram religiões antes de terem sido escritas.
Aparentemente o juiz desconhece o próprio cristianismo.
Explico. É consensual que os textos considerados sagrados
para cristãos, judeus e muçulmanos que compõe o chamado Velho Testamento,
derivam de histórias que antes de serem escritas, eram repassadas através da
oralidade.
Ou será que o juiz pensa que foi Adão quem escreveu o
Gênesis?
Boa parte das narrativas do Gênesis eram histórias para
serem contadas ao pé da fogueira, após um dia de pastoreio entre as ovelhas e
cabras. Ou seja, em essência, não diferem das histórias que compõe a tradição
oral de cultos africanos e indígenas.
Os Salmos foram antes poesias para serem declamadas, aprendidas
através da oralidade. Somente depois do cativeiro da babilônia é que foram
escritas.
E o que dizer de Jesus?
Se Eugênio Rosa fosse juiz em 30 d.C. Os ensinos de Jesus não
teriam valor algum. Afinal de contas, o que ele dizia ainda não estava escrito.
Paulo escreveu suas famosas cartas, somente 50 anos depois e o Novo Testamento,
tal como conhecemos, só ficou “pronto” no século II depois de Cristo.
Ou seja, além de burro, é também um fariseu.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
Mídia e Democracia
Semana passada assistimos ao linchamento de uma dona de casa, equivocadamente confundida com uma mulher acusada de infanticídio. O estopim partiu de um site de notícias.
Não é um caso isolado. Em diferentes situações a imprensa foi responsável pelo linchamento físico ou moral de centenas de pessoas. Os casos vão parar na justiça comum, mas todos sabem que depois de uma condenação na imprensa, reputações, biografias e vidas, são perdidas para sempre.
A mídia hoje é regulamentada pelo mercado. Pelos interesses das famílias que mantém suas concessões públicas através de favores políticos. Pela busca desenfreada de audiência, nem que para isso tenha que se mostrar sangue derramado e vísceras expostas.
Não há hoje nenhuma liberdade de expressão, ou de informação que contrarie tais interesses.
A grande maioria dos jornalistas que podem expressar suas opiniões publicamente tem este privilégio porque suas opiniões coincidem com a de seus patrões.
A quem interessa esta pseudo “liberdade de expressão”?
Há diferentes propostas de regulamentação da mídia. Uma delas consta no PNDH 3. A idéia é simples: um órgão de imprensa que não siga determinados parâmetros não receberá financiamento público. Hoje temos os parâmetros da comunicação ditados pelo mercado. A questão a ser discutida passa a ser então: que parâmetros queremos?
Ou seja, não se trata de censura, trata-se simplesmente de retirar o financiamento do governo. Quer falar o que quer? Busque patrocínio na iniciativa privada.
Ou será que é justo que o governo brasileiro continue financiando as fortunas de Marinhos, Abravanéis e Sarneys, entre outros tantos, para que estes continuem defendendo seus interesses oligárquicos?
Outra proposta parte da Federação Nacional dos Jornalistas e trata da criação de um Conselho Federal de Jornalismo.
Médicos têm o CRM, Engenheiros dispõem do CREA, Advogados têm a OAB.
Caso um profissional de qualquer uma destas áreas cometer um deslize, tiver uma atitude anti-ética, antes de ir para a justiça comum será julgado pelos seus pares e poderá ter o seu registro cassado.
Porque esta regra vale para engenheiros, médicos e advogados, mas não para jornalistas? O caso da dona de casa linchada é só um exemplo, entre tantos, de que o mau exercício da profissão pode causar a morte (ou até uma guerra em alguns casos, mas deixemos isso para outro momento).
No entanto, a proposta foi rejeitada no congresso, com a alegação de que haveria “censura”. A alegação partiu do mesmo lobby da indústria da comunicação que hoje decide o que eu e você podemos ouvir e assistir nas rádios e TVs que pertencem sim, ao povo brasileiro.
sábado, 19 de abril de 2014
Desvendando o mistério da origem da Ayahuasca - Locais de Origem
Gayle Highpine
As evidências sugerem fortemente que o Napo é o local de origem tanto do cipó Banisteriopsis caapi quanto do complexo cultural que hoje é conhecido como " xamanismo ayahuasqueiro". Do norte, xamãs e pesquisadores apontam igualmente para o Napo como sendo o local de origem. Brabec de Mori (2011:24), diz: "Entre a maioria dos pesquisadores , há um consenso de que uma "origem" da ayahuasca, embora remota que seja, deve estar localizada nas terras baixas amazônicas ocidentais em todo o Rio Napo. "Um documento, publicado por UMIYAC (União dos curadores Yagé da Colômbia) a partir do ponto de vista dos xamãs indígenas colombianos, menciona a origem do cipó no rio Napo . Escrevendo de Colômbia, Weiskopf ( 2005:115 ) menciona a origem do Yagé como sendo no rio Napo. O antropólogo colombiano German Zuluaga localiza a origem da Ayahuasca ou Yagé no "refúgio" de Napo, que inclui a região do rio Napo ao Putumayo ( Zuluaya 2005:175 ) .
Povos ao norte do Napo para o sul para a origem da ayahuasca e por outro lado, os povos ao ponto sul para o norte ( Gow 1990; Brabec de Mori 2011; Calavia Saez 2011) . Se a ayahuasca tinha originalmente sido difundida juntamente com qualquer uma das plantas da mistura, em seguida, que os de mistura - tanto P. viridis ou chaliponga - provavelmente seria usado em todos os lugares na bebida ayahuasca. A evidência é consistente que o cipó Banisteriopsis caapi originou em Napo e foi difundido a partir de lá. É também evidente que o xamanismo ayahuasqueiro foi totalmente desenvolvido no Napo antes dos aditivos DMT terem sido introduzidos, e eventualmente evoluiram para práticas com aditivos DMT.
Não há mistério de como a sinergia entre B. caapi e as misturas contendo DMT foi descoberta . Ao contrário da crença popular, chaliponga e P. viridisare são psicoativos sozinhos, ambos foram documentados tendo sido usados sozinhos. A prática de misturar outras plantas com B. caapi está bem estabelecida. Mais de uma centena de "misturas" foram documentados, mas o número de plantas que foram misturados com ayahuasca em algum momento é além da conta . A maioria desses "aditivos" não são adicionados para aumentar o efeito psicoativo da ayahuasca ; ao contrário, eles são misturados com ayahuasca , a fim de compreender e comunicar-se com aqueles plantas. A ayahuasca tem um papel de apoio tradicional para outras plantas medicinais .
Mais cedo ou mais tarde a videira se espalhou para os locais onde eram utilizados chaliponga e P. viridis . Como outros medicamentos, cada um deles foi misturado com ayahuasca, e, assim, a bebida ayahuasca contendo DMT nasceu. Por sua vez , cada uma das fermentações contendo DMT espalhou-se a partir do seu próprio ponto de origem. Um mapeamento das culturas que utilizam Chaliponga e daqueles que usam Chakruna como uma mistura, torna o padrão de difusão bastante evidente .
Outra "mistura" que contém DMT é Anadenanthera peregrino, ou angico. Angico, como rapé, tem sido muito utilizado sozinho (às vezes com aditivos ) na Venezuela. Os Piaroa adotaram o uso combinado de angico e B. caapi ( Rodd 2002) , um exemplo de um psicoativo já em uso que foi reforçado pelo B. caapi .
Chaliponga
A sinergia de chaliponga ( Chaliponga / chagropanga ) com B. caapi provavelmente foi descoberta mais cedo do que a sinergia de Psychotria viridis com B. caapi. Os Napo Runa parecem muito mais confortáveis e familiarizado com ele do que com P. viridis, por isso é provável que tenha chegado a eles mais cedo.
B. caapi provavelmente conheceu a chaliponga em torno do rio Putumayo superior, a fronteira dos atuais Equador e Colômbia, através dos Siona. Isso é aproximadamente o limite sul da prática mais antiga do uso da chaliponga sozinha, o que influenciou a cultura de "Yagé" distinta em alguns aspectos da cultura da "ayahuasca ".
Como o uso de chaliponga na mistura se espalhou para o sul, foi adotado pelos Napo Runa, pelos Pastaza Runa mais ao sul, e pelas tribos Jivaro ao sul : Shuar , Achuar , Shiwiar , awajún e Huambisa. Os Pastaza Runa e Shuar adotaram o nome Yaji para chaliponga , porque esse era o elemento novo na bebida que receberam sob o nome Yagé. Os únicos grupos no Peru que utilizam chaliponga como uma mistura parecem ser os povos Jivaro; em Iquitos, chaliponga é conhecido como Huambisa segundo a tribo identificado com o seu uso.
Chakruna
B. caapi conheceu P. viridis em algum lugar ao redor da confluência dos rios Napo e Amazonas. A partir daí, esta combinação se espalhou para o sul, especialmente acima do rio Ucayali . P. viridis , como chaliponga , tem sido usado apenas pelos seus efeitos psicoativos. O uso de P. viridis só foi documentada por Yves Duc, um estudante suíço de um curandeiro Ashaninka , que diz que a "dieta" Ashaninka inclui Chakruna , às vezes com Tabaco adicionado como um IMAO suave. "Sozinha a Chacruna não dá visões, mas se alguém toma uma decocção concentrada , a planta é, na minha opinião, profundamente e sutilmente psicoativa " (comunicação pessoal) .
Esta prática com Chakruna provavelmente antecedeu a chegada de Ayahuasca para a região. Ou, a ayahuasca pode ter levado as pessoas a este ajudante, como ela os levou a muitos outros medicamentos. No entanto, e sempre que a reunião de Chakruna com Caapi ocorreu, parece ter acontecido perto da atual Iquitos.
Gow (1996), Brabec de Mori (2011) , e Calavia Saez (2011) fazem um caso convincente, citando os povos indígenas do Ucayali superior a si mesmos, que a difusão de combinação Caapi / Chakruna ao sul de Iquitos pode ser historicamente recente. Eles também mencionam um caso instigante que as perturbações sociais do colonialismo e do boom da borracha contribuiu para tornar a forma Napo do xamanismo a forma dominante de prática Ayahuasca no Alto Amazonas .
Para ler mais:
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Original em inglês
Imagem: Paolo del Aguila Sajami
As evidências sugerem fortemente que o Napo é o local de origem tanto do cipó Banisteriopsis caapi quanto do complexo cultural que hoje é conhecido como " xamanismo ayahuasqueiro". Do norte, xamãs e pesquisadores apontam igualmente para o Napo como sendo o local de origem. Brabec de Mori (2011:24), diz: "Entre a maioria dos pesquisadores , há um consenso de que uma "origem" da ayahuasca, embora remota que seja, deve estar localizada nas terras baixas amazônicas ocidentais em todo o Rio Napo. "Um documento, publicado por UMIYAC (União dos curadores Yagé da Colômbia) a partir do ponto de vista dos xamãs indígenas colombianos, menciona a origem do cipó no rio Napo . Escrevendo de Colômbia, Weiskopf ( 2005:115 ) menciona a origem do Yagé como sendo no rio Napo. O antropólogo colombiano German Zuluaga localiza a origem da Ayahuasca ou Yagé no "refúgio" de Napo, que inclui a região do rio Napo ao Putumayo ( Zuluaya 2005:175 ) .
Povos ao norte do Napo para o sul para a origem da ayahuasca e por outro lado, os povos ao ponto sul para o norte ( Gow 1990; Brabec de Mori 2011; Calavia Saez 2011) . Se a ayahuasca tinha originalmente sido difundida juntamente com qualquer uma das plantas da mistura, em seguida, que os de mistura - tanto P. viridis ou chaliponga - provavelmente seria usado em todos os lugares na bebida ayahuasca. A evidência é consistente que o cipó Banisteriopsis caapi originou em Napo e foi difundido a partir de lá. É também evidente que o xamanismo ayahuasqueiro foi totalmente desenvolvido no Napo antes dos aditivos DMT terem sido introduzidos, e eventualmente evoluiram para práticas com aditivos DMT.
Não há mistério de como a sinergia entre B. caapi e as misturas contendo DMT foi descoberta . Ao contrário da crença popular, chaliponga e P. viridisare são psicoativos sozinhos, ambos foram documentados tendo sido usados sozinhos. A prática de misturar outras plantas com B. caapi está bem estabelecida. Mais de uma centena de "misturas" foram documentados, mas o número de plantas que foram misturados com ayahuasca em algum momento é além da conta . A maioria desses "aditivos" não são adicionados para aumentar o efeito psicoativo da ayahuasca ; ao contrário, eles são misturados com ayahuasca , a fim de compreender e comunicar-se com aqueles plantas. A ayahuasca tem um papel de apoio tradicional para outras plantas medicinais .
Mais cedo ou mais tarde a videira se espalhou para os locais onde eram utilizados chaliponga e P. viridis . Como outros medicamentos, cada um deles foi misturado com ayahuasca, e, assim, a bebida ayahuasca contendo DMT nasceu. Por sua vez , cada uma das fermentações contendo DMT espalhou-se a partir do seu próprio ponto de origem. Um mapeamento das culturas que utilizam Chaliponga e daqueles que usam Chakruna como uma mistura, torna o padrão de difusão bastante evidente .
Outra "mistura" que contém DMT é Anadenanthera peregrino, ou angico. Angico, como rapé, tem sido muito utilizado sozinho (às vezes com aditivos ) na Venezuela. Os Piaroa adotaram o uso combinado de angico e B. caapi ( Rodd 2002) , um exemplo de um psicoativo já em uso que foi reforçado pelo B. caapi .
Chaliponga
A sinergia de chaliponga ( Chaliponga / chagropanga ) com B. caapi provavelmente foi descoberta mais cedo do que a sinergia de Psychotria viridis com B. caapi. Os Napo Runa parecem muito mais confortáveis e familiarizado com ele do que com P. viridis, por isso é provável que tenha chegado a eles mais cedo.
B. caapi provavelmente conheceu a chaliponga em torno do rio Putumayo superior, a fronteira dos atuais Equador e Colômbia, através dos Siona. Isso é aproximadamente o limite sul da prática mais antiga do uso da chaliponga sozinha, o que influenciou a cultura de "Yagé" distinta em alguns aspectos da cultura da "ayahuasca ".
Como o uso de chaliponga na mistura se espalhou para o sul, foi adotado pelos Napo Runa, pelos Pastaza Runa mais ao sul, e pelas tribos Jivaro ao sul : Shuar , Achuar , Shiwiar , awajún e Huambisa. Os Pastaza Runa e Shuar adotaram o nome Yaji para chaliponga , porque esse era o elemento novo na bebida que receberam sob o nome Yagé. Os únicos grupos no Peru que utilizam chaliponga como uma mistura parecem ser os povos Jivaro; em Iquitos, chaliponga é conhecido como Huambisa segundo a tribo identificado com o seu uso.
Chakruna
B. caapi conheceu P. viridis em algum lugar ao redor da confluência dos rios Napo e Amazonas. A partir daí, esta combinação se espalhou para o sul, especialmente acima do rio Ucayali . P. viridis , como chaliponga , tem sido usado apenas pelos seus efeitos psicoativos. O uso de P. viridis só foi documentada por Yves Duc, um estudante suíço de um curandeiro Ashaninka , que diz que a "dieta" Ashaninka inclui Chakruna , às vezes com Tabaco adicionado como um IMAO suave. "Sozinha a Chacruna não dá visões, mas se alguém toma uma decocção concentrada , a planta é, na minha opinião, profundamente e sutilmente psicoativa " (comunicação pessoal) .
Esta prática com Chakruna provavelmente antecedeu a chegada de Ayahuasca para a região. Ou, a ayahuasca pode ter levado as pessoas a este ajudante, como ela os levou a muitos outros medicamentos. No entanto, e sempre que a reunião de Chakruna com Caapi ocorreu, parece ter acontecido perto da atual Iquitos.
Gow (1996), Brabec de Mori (2011) , e Calavia Saez (2011) fazem um caso convincente, citando os povos indígenas do Ucayali superior a si mesmos, que a difusão de combinação Caapi / Chakruna ao sul de Iquitos pode ser historicamente recente. Eles também mencionam um caso instigante que as perturbações sociais do colonialismo e do boom da borracha contribuiu para tornar a forma Napo do xamanismo a forma dominante de prática Ayahuasca no Alto Amazonas .
Para ler mais:
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Original em inglês
Imagem: Paolo del Aguila Sajami
terça-feira, 15 de abril de 2014
Desvendando o mistério da origem da Ayahuasca (parte 5)
Apesar de conhecida desde 2.500 a.c, a malária não tinha uma cura específica. Em apenas 25 anos de contato com esta doença, os Napo Runa encontraram o quinino que até hoje é a base para cura da malária. Eles próprios atribuem o seu vasto conhecimento em plantas medicinais à ayahuasca: "a mãe de todas as plantas".
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Original em inglês
Ayahuasca e Sobrevivência em Napo
Gayle Highpine
O atual Napo Runa são famosos no Equador tanto entre os estudiosos quanto por outros grupos indígenas pelo grande número de diferentes plantas medicinais que conhecem. Alguns estudiosos estimam que um total de 1,2 mil diferentes plantas medicinais são conhecidos e utilizados entre os Napo Runa.
Richard Evans Schultes estimou em 1.600 plantas conhecidas na maior região envolvendo Equador leste e áreas adjacentes da Colômbia e do Peru. Parte da razão para isso pode ser que os Napo Runa originaram-se como uma amálgama de diferentes povos, cada um com suas próprias tradições. Outra parte da razão é o fato de que seu território contém ecossistemas significativamente variados devido às altitudes onde a floresta encontra o sopé dos Andes. Mas tanto os antropólogos quanto os Napo Runa atribuem o fato de que o povo Napo Runa conhece muitas plantas ao fato de que os seus antepassados foram os primeiros índios da Amazônia para encontrar os europeus, e portanto os primeiros a serem atingidos por doenças europeias.
Em contraste, os seus vizinhos (e inimigos tradicionais ) para o sudeste, os Waorani, foram capazes, por causa de sua extrema ferocidade, de manter o seu isolamento até a década de 1950, e muitos ainda vivem livres na floresta. Em 1980, algumas décadas após os Waorani terem sido "pacificados", tornou-se seguro para pessoas de fora para visitá-los. Desde então pesquisadores tem visitado os Waorani para aprender sobre suas plantas medicinais tradicionais. Devido ao isolamento de tanto tempo, sua cultura tradicional foi mantida intacta, pensava-se que seriam um tesouro de conhecimento etnobotânico.
Mas os pesquisadores voltaram com míseras trinta e cinco plantas medicinais entre os Waorani, e perceberam que, em seu estado isolado, os Waorani não precisavam de muitos medicamentos:
"Eles nunca tinham sido expostos a poliomielite ou pneumonia, nem houve qualquer evidência de que a varíola, varicela, tifo e febre tifóide tenham afetado a tribo. Não houve sífilis, tuberculose, malária ou hepatite. Das trinta e cinco plantas medicinais, trinta foram usadas para tratar uma de seis possíveis necessidades: infecções fúngicas, mordidas, problemas dentários, febres, picadas de insetos, dores e lesões traumáticas, como mordidas de animais, feridas de lança, e ossos quebrados. O restante foram avaliados para o tratamento de alguma doença idiossincrática" (Davis, 1996: 291-2).
Esses medicamentos, até recentemente, eram os únicos necessários. Antes da invasão européia, os antepassados do Napo Runa provavelmente tinha um número e variedade de medicamentos similares, mas em pouco tempo eles descobriram muitas novas plantas medicinais para ajudá-los a lidar com os novos desafios de cura.
Aqueles que sugerem que a sinergia entre o cipó da Ayahuasca e folha (rainha ou chacrona) foi descoberta por tentativa e erro, não tem ideia da biodiversidade da Amazônia. São cerca de 80.000 espécies de plantas catalogadas na região onde Ayahuasca é utilizado, mas estima-se que haja cerca de um milhão de espécies vegetais ainda não catalogados.
O Napo Runa descobriram mais de mil plantas medicinais, algumas em combinações complexas, e descobriram a maioria deles em um tempo muito curto, em apenas um século ou mais de a introdução de doenças europeias. Na verdade, embora o mundo já tenha conhecido a malária há milhares de anos (foi descrito na China em 2700 aC), e não tinha remédio para ele, dentro de 25 anos da introdução da malária na Amazônia, o primeiro medicamento para a malária, o quinino, extraído de uma planta, foi descoberto pelos povos indígenas no Equador.
A ideia de tentativa e erro entre pessoas doentes e plantas aleatórias certamente que não é uma maneira eficaz de descobrir quais plantas podem ajudar. Os Napo Runa dão crédito à ayahuasca pela descoberta de tantos medicamentos. Quando as novas doenças os atingiram - não apenas as doenças infecciosas, mas também doenças decorrentes de estresse e da opressão da escravidão xamãs do povo Napo beberam a ayahuasca no contexto de uma rigorosa "dieta", e a Ayahuasca iria então enviar visões de plantas específicas e suas localizações. Uma vez que uma nova planta foi encontrada, ela normalmente seria preparadas em conjunto com a ayahuasca para solicitar visões para ajudar a entender os efeitos da planta, para se comunicar com a planta, e aprender a trabalhar em parceria com a planta como um aliado do espírito. Curandeiros de ervas também usam ayahuasca para ajudar a prescrever remédios para um paciente, embora aliados espirituais da planta possam ajudar com a cura, mesmo sem um paciente necessariamente consumi-los na forma física.
Mesmo se a pessoa não aceitar a possibilidade de comunicação planta (que eu faço), poderia haver outras razões pelas quais Ayahuasca é considerado o mestre de outras plantas medicinais. MAOI podem potencializar muitos tipos de ação farmacêutica, e o IMAO em Ayahuasca pode contribuir para sensibilizar as pessoas para as plantas, especialmente se a pessoa passa meses em solidão na floresta em uma dieta rigorosa bebendo continuamente Ayahuasca. Os seres humanos têm a mesma capacidade instintiva para sentir as plantas medicinais como outros animais, mesmo que a maioria nunca tenha desenvolvido. Seja qual for a razão, a ayahuasca é considerada a grande mestre das plantas medicinais e "a mãe de todas as plantas."
Continua...
Desvendando o mistério da origem da ayahuasca (Locais de Origem)
Imagem: Juan Carlos Taminchi
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Original em inglês
Ayahuasca e Sobrevivência em Napo
Gayle Highpine
O atual Napo Runa são famosos no Equador tanto entre os estudiosos quanto por outros grupos indígenas pelo grande número de diferentes plantas medicinais que conhecem. Alguns estudiosos estimam que um total de 1,2 mil diferentes plantas medicinais são conhecidos e utilizados entre os Napo Runa.
Richard Evans Schultes estimou em 1.600 plantas conhecidas na maior região envolvendo Equador leste e áreas adjacentes da Colômbia e do Peru. Parte da razão para isso pode ser que os Napo Runa originaram-se como uma amálgama de diferentes povos, cada um com suas próprias tradições. Outra parte da razão é o fato de que seu território contém ecossistemas significativamente variados devido às altitudes onde a floresta encontra o sopé dos Andes. Mas tanto os antropólogos quanto os Napo Runa atribuem o fato de que o povo Napo Runa conhece muitas plantas ao fato de que os seus antepassados foram os primeiros índios da Amazônia para encontrar os europeus, e portanto os primeiros a serem atingidos por doenças europeias.
Em contraste, os seus vizinhos (e inimigos tradicionais ) para o sudeste, os Waorani, foram capazes, por causa de sua extrema ferocidade, de manter o seu isolamento até a década de 1950, e muitos ainda vivem livres na floresta. Em 1980, algumas décadas após os Waorani terem sido "pacificados", tornou-se seguro para pessoas de fora para visitá-los. Desde então pesquisadores tem visitado os Waorani para aprender sobre suas plantas medicinais tradicionais. Devido ao isolamento de tanto tempo, sua cultura tradicional foi mantida intacta, pensava-se que seriam um tesouro de conhecimento etnobotânico.
Mas os pesquisadores voltaram com míseras trinta e cinco plantas medicinais entre os Waorani, e perceberam que, em seu estado isolado, os Waorani não precisavam de muitos medicamentos:
"Eles nunca tinham sido expostos a poliomielite ou pneumonia, nem houve qualquer evidência de que a varíola, varicela, tifo e febre tifóide tenham afetado a tribo. Não houve sífilis, tuberculose, malária ou hepatite. Das trinta e cinco plantas medicinais, trinta foram usadas para tratar uma de seis possíveis necessidades: infecções fúngicas, mordidas, problemas dentários, febres, picadas de insetos, dores e lesões traumáticas, como mordidas de animais, feridas de lança, e ossos quebrados. O restante foram avaliados para o tratamento de alguma doença idiossincrática" (Davis, 1996: 291-2).
Esses medicamentos, até recentemente, eram os únicos necessários. Antes da invasão européia, os antepassados do Napo Runa provavelmente tinha um número e variedade de medicamentos similares, mas em pouco tempo eles descobriram muitas novas plantas medicinais para ajudá-los a lidar com os novos desafios de cura.
Aqueles que sugerem que a sinergia entre o cipó da Ayahuasca e folha (rainha ou chacrona) foi descoberta por tentativa e erro, não tem ideia da biodiversidade da Amazônia. São cerca de 80.000 espécies de plantas catalogadas na região onde Ayahuasca é utilizado, mas estima-se que haja cerca de um milhão de espécies vegetais ainda não catalogados.
O Napo Runa descobriram mais de mil plantas medicinais, algumas em combinações complexas, e descobriram a maioria deles em um tempo muito curto, em apenas um século ou mais de a introdução de doenças europeias. Na verdade, embora o mundo já tenha conhecido a malária há milhares de anos (foi descrito na China em 2700 aC), e não tinha remédio para ele, dentro de 25 anos da introdução da malária na Amazônia, o primeiro medicamento para a malária, o quinino, extraído de uma planta, foi descoberto pelos povos indígenas no Equador.
A ideia de tentativa e erro entre pessoas doentes e plantas aleatórias certamente que não é uma maneira eficaz de descobrir quais plantas podem ajudar. Os Napo Runa dão crédito à ayahuasca pela descoberta de tantos medicamentos. Quando as novas doenças os atingiram - não apenas as doenças infecciosas, mas também doenças decorrentes de estresse e da opressão da escravidão xamãs do povo Napo beberam a ayahuasca no contexto de uma rigorosa "dieta", e a Ayahuasca iria então enviar visões de plantas específicas e suas localizações. Uma vez que uma nova planta foi encontrada, ela normalmente seria preparadas em conjunto com a ayahuasca para solicitar visões para ajudar a entender os efeitos da planta, para se comunicar com a planta, e aprender a trabalhar em parceria com a planta como um aliado do espírito. Curandeiros de ervas também usam ayahuasca para ajudar a prescrever remédios para um paciente, embora aliados espirituais da planta possam ajudar com a cura, mesmo sem um paciente necessariamente consumi-los na forma física.
Mesmo se a pessoa não aceitar a possibilidade de comunicação planta (que eu faço), poderia haver outras razões pelas quais Ayahuasca é considerado o mestre de outras plantas medicinais. MAOI podem potencializar muitos tipos de ação farmacêutica, e o IMAO em Ayahuasca pode contribuir para sensibilizar as pessoas para as plantas, especialmente se a pessoa passa meses em solidão na floresta em uma dieta rigorosa bebendo continuamente Ayahuasca. Os seres humanos têm a mesma capacidade instintiva para sentir as plantas medicinais como outros animais, mesmo que a maioria nunca tenha desenvolvido. Seja qual for a razão, a ayahuasca é considerada a grande mestre das plantas medicinais e "a mãe de todas as plantas."
Continua...
Desvendando o mistério da origem da ayahuasca (Locais de Origem)
Imagem: Juan Carlos Taminchi
Assinar:
Postagens (Atom)