quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A verdadeira geografia do Acre

A cidade mais isolada do Acre não é Santa Rosa do Purus, nem Jordão e muito menos Marechal Thaumaturgo. A cidade mais isolada do Acre é Rio Branco. Rio Branco é "ligada" com o resto do Brasil. Quer dizer, "ligada" em termos... Parece mais aquele menino buchudo que ninguém quer no time de futebol, mas fica insistindo com o nariz remelento "deixa eu jogar, vai".

Mas Rio Branco é isolada do Estado de que deveria ser a capital. Rio Branco não é a capital do Acre, é uma cidade-estado que só pode ser a capital de si mesmo. A cidade-estado de Rio Branco tem três capitais: a capital econômica fica na periferia de Porto Velho, a capital pólítica, fica na periferia de Brasília e a capital cultural fica em algum lugar entre São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, encostadinho num estúdio da Rede Globo (que horas são?).

***

Parafraseando Luis F. Verísssimo, que disse que os portenhos (nativos de B.Aires) eram italianos que se achavam ingleses, a maioria dos rio-branquenses são rondonienses que se acham paulistas.

Para estes, que tiveram pouco, ou nenhum contato com a verdadeira cultura nativa do estado o Juruá, parece uma terra de conto de fadas, uma espécie de Nárnia e nós os "narnianos" somos uma espécie exótica, que talvez nem exista mais.

É a impressão que eu tenho quando alguém do governo fala sobre os investimentos na região.
E para ser justo, o governo tem lutado sim para mudar esta geografia. Não por que ele seja "bonzinho" e tenha de fato conseguido enxergar "Nárnia", mas porque o Juruá pesa cada vez mais na balança política do estado e o povo juruaense, cada vez mais bem informado, não aceita mais as migalhas da capital. E para ser justo também, quem começou a mudar esta geografia política foi, gostem ou não, Orleir Cameli. A partir de seu governo, não foi mais possível tratar o Juruá da mesma maneira que vinha sendo tratado pelos governos anteriores.

O que me enoja na capital é como parte significativa de sua sociedade, especialmente a sua pseudo elite se cerca do poder a fim de tirar uma "casquinha". É este séquito de miséráveis que fornece a "cortina de fumaça" que impede ou ao menos, dificulta que os representantes do poder instituído pelo POVO do ACRE, enxerguem a realidade.

O rei está nú e a função do primeiro círculo do poder é dizer que suas vestes são lindas. Atrás destes vêm um segundo círculo que diz "você está nú, mas se me pagares, direi que suas vestes estão lindas". As vezes tenho a impressão de que o governo instituído pelo POVO do ACRE é refém de uma sociedade corrompida e com quase nenhuma disposição para trabalhar.

Me enoja quando o empresariado da "capital", diz que prefere investir em Porto Velho do que em Cruzeiro do Sul. Mas por outro lado, me trás também alívio: não precisamos de mais safados aqui, por que já fabricamos os nossos.

É significativa a letargia e a indiferença com que a sociedade rio-branquense recebe os anúncios da conclusão da BR, da ponte sobre o rio Juruá e etc, etc e etc...

Em tese, apenas em tese, é para que a ALEAC fosse uma casa de represetantes das diferentes regiões do estado. Na prática, todos tornam-se rio-branquenses e passam a viver do gargarejo claustrofóbico do poder que impede que enchergar além de Bujari.

...Na verdade não é o Juruá que precisa se separar do Acre, é Rio Branco que precisa abrir os olhos para o resto do estado e deixar de ser tão somente apenas, a capital de si mesma.

11 comentários:

  1. Gostei.
    Muito verdadeiro o texo..
    gostei da frase/
    não precisamos de mais safados aqui, por que já fabricamos os nossos.

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  2. Sim eu concordo com o texto, e lamento por ter que sair de minha cidade de origem para estudar, sou de Cruzeiro do Sul e estou em Manaus estudando, na verdade seria legal falar: Estou melhorando meus conhecimentos... Fui Peão, vaqueiro hoje sou Técnico Em Agropecuária e Academico de Medicina Veterinária nunca fui ajudado com nada do Estado do Acre, com a Graça de Deus voltarei e terminarei minha Historia de vida na minha cidade de onde ví meu (Pai) trabalhar tanto!!!

    Obrigado Deus!! Elton Ferreira

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  3. eu tirava apenas o orleir do texto
    nao vale nem a pena dizer porque

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  4. É realmente, tenho um grande respeito na pessoa do senhor Orleir Camenli, tanto como pessoa quanto profissional tivi oportunidade de trabalhar com ele e é um grande Homem...

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  5. Achei pertinente seu texto e bem verdadeiro. Também é essa impressão de indiferença com o Juruá que a nossa "grandiosíssima" capital me passa.
    Por morarem em Rio Branco, muitas pessoas se sentem com o rei na barriga, como se nossa capital fosse um super desenvolvido centro urbano. kkkkk

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  6. muito bom seu texto, parabens!!! vc falou muito bem!!!realmente nao precisamos de mais safados por aqui nao,,deixa esses miseros da "capital" longe de nós..so pq eles moram em "rio branco" ficam se achando, como se morassem em Sao paulo, Rio de janeiro, Nova York...kkkk grandes coisas morar em Rio Branco..kkkk

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  7. Sábias palavras as suas!!! Já salvei seu blog nos meus favoritos. O Acre já é discriminado por muitos lá fora, e tendo uma capital com acrianos que sentem como se o acre fosse apenas eles, fica mais difícil ainda de ganharmos respeito. Respeitemo-nos primeiramente para que sejamos respeitados!!!

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  8. Realmente, pertinentes tuas palavras. Sou do Rio de Janeiro, conheço o Brasil todo e parte da América do Sul. Moramos aí no Acre durante quase dois anos, 8 meses em Rio Branco. Fui para a obra do shopping e depois fomos pra Cruzeiro do Sul, onde ficamos por 11 meses. Concordo com tudo que dissestes, prova disso que hoje, voltei para casa, no Piauí, e estamos doidos pra retornar ao Juruá, onde fizemos muitas amizades, e confesso que não temos vontade de morar em Rio Branco. Gostamos de lá? Sim, mas o ambiente social em Cruzeiro do Sul é completamente diferente. Parece outro estado, outro país até. Estas questões de distância e a aproximação de Rio Branco com o "resto" do país é que faz isso. Mas é um erro, pois realmente fatalmente, isolou Rio Branco, tornando-a a capital mais distante de seu estado e de sua cultura. Aqui no Piauí, onde moramos no sul do estado, também acontece isso, tanto que existe um movimento de divisão do estado, pois a capital é totalmente voltada para o norte, para Fortaleza, principalmente. Acredito que se o governo do estado fizer uma administração descentralizada, ou seja, passar tempos regulares em Cruzeiro do Sul, por exemplo, e não só visitar pode amenizar o problema. Pra completar, lembro-me quando a empresa que eu trabalhava me informou que eu seria transferido para Cruzeiro, muitas pessoas de Rio Branco, me disseram: Nossa, você vai para Cruzeiro, que pena! Parecia que eu ia para o Afeganistão, ou lugar pior. Sorte a nossa que fomos, eu e minha esposa! Te adoramos Juruá! Nos aguarde! E, se melhorar estraga!

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  9. Aqui em Rio Branco quase todo mundo está nu, Leandro! Como se fossem Adão e Eva no paraíso! Mas ninguém nem ousa vê a realidade! Falta só uma serpente pra estragar tudo! RS!

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  10. Sou o professor Marcus Matozo, sou mestre em Geografia cultural pela UFPR e estou organizando um evento pela internet sobre Geografia fora de sala de aula, vendo seu blog, pensei em ti para participar do evento.

    O evento basicamente sera assim: os palestrantes me enviarão um vídeo de 10 a 15 minutos contando uma experiência que fizeram fora de sala de aula com os alunos, comentando a importância desse momento, por que é necessário levar o aluno ao campo e quais benefícios essa metodologia trás para os alunos.

    O evento será gratuito, aqueles que fizeram inscrição antecipada poderão assistir aos videos sem custo algum, naquele horário previsto. Para quem quiser ter acesso ao vídeo fora desse horário, ou seja, depois da transmissão no horário previsto, terá que comprá-lo e a verba alcançada destinaremos para uma instituição de caridade ou para algum projeto de relevância social (estamos fazendo levantamentos ainda, caso conheça algum projeto ou instituição pode indicar também).

    O evento acontecerá entre o final de junho e inicio de julho, estou em fase de convite aos participantes palestrantes ainda, a Salete será uma das palestrantes.

    Agradeço sua atenção e ficarei no aguardo de seu parecer.

    Obrigado.

    Marcus Antonio Matozo.

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  11. Muito bom seu texto! é uma pena que isso aconteça, é uma pena que você não tenha conhecido alguém de Rio Branco que valorize as outras cidades do estado(não que isso vá mudar algo). Moro em Rio Branco e sempre senti muita raiva desse sentimento que a maioria das pessoas daqui tem em relação as outros municípios do Acre, demorei pra entender mas venho buscando e observei que um dos fatores desse acontecimento é a desvalorização da vida na floresta, seringais, ou proximidade com os indígenas. Assim todos acreditam que viver na "cidade" kkk é melhor que viver em qualquer outro lugar do Acre. Pura ilusão kkk! o Acre é todo lindo. Agradeço aos meus avós seringueiros e meus pais por me ensinarem a amar meu estado, valorizar a floresta e os costumes da nossa região, parte da minha família veio de Feijó talvez por isso alimentamos o amor rs. Hoje tento diminuir o conflito que encontro com alguns amigos de outros municípios, pois quando eles chegam em RB mostram um ódio tremendo de tudo que tem aqui, e eu mostro o amor e gratidão que tenho por todo o Acre. Sei que esse assunto é político e respinga em toda sociedade do estado.
    Esse é meu pensamento
    Sou Acreana e isso me orgulha muitoooo
    Essas pessoas de Rio Branco que você cita não me representam! e não estou isolada graças a Deus.

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