sábado, 3 de março de 2012

Mau atendimento hospitalar


Meu amigo foi internado. A suspeita inicial era de uma infecção intestinal. Procurou o PS de Rio Branco (HUERB- unidade de saúde do estado). Foi atendido e medicado. Voltou para casa e teve uma piora significativa. Emagreceu visivelmente. Buscou novamente o SUS e desta vez o médico pediu que suspebndesse o tratamento. Seu problema era outro: infecção urinária. foi medicado como infecção urinária e voltou a piorar. acabou sendo internado no HUERB.

Fui visitá-lo na unidade. Com apenas 32 anos, forte e bem disposto, assustei-me ao ver um rascunho do que havia sido há apenas 15 dias atrás.

Observei a tudo. A recepção da unidade estava lotada, mas o atendimento, naquela ocasião, foi rápido. Toda estrutura da unidade era nova e em bom estado. O chão estava limpoe havia uma TV para quem estava na recepção.

As recepcionistas atenderam rapidamente, demonstraram-se atenciosas e eficicientes em me indicar o local onde estava meu amigo.

-Ele está na Observação Adulto

E me deram as indicações.

Fui até om local indicado, onde havia uma nova recepção. Uma das recepcionistas acompanhou-me até o seu leito. Era momento de visita e a sala estava lotada. O técnico em enfermagem passava entre os leitos, cumprindo a sua rotina.

- mas Juliano, o que você tem mesmo?

- Eu não sei, eles não me dizem. Peraí que eu vou perguntar para a médica.

- Dra. eu estou sentindo dores abdominais, eu não sei o que eu tenho...

Sem tirar os olhos do papel, a médica desconversa:

- Você já está sendo medicado. Não pode ter alta...

- Disso eu já tenho plena consciência... eu só queria saber o que eu tenho!

Sem responder, como se a pergunta fosse uma ofensa, ela volta os olhos ao palpel, e ignora o ser humano que está alí na sua frente.

Minutos depois, uma paciente se joga no chão e diz:

- Eu não agüento mais, me tirem daqui... eu trabalho na Câmara de Capixaba e toda vez que om governo tem alguma tividade lá, eu atendo todo mundo com educação, por que aqui é assim meu Deus!

Quem a acude é justamente o técnico em enfermagem e a recepcionista que por acaso estava no local. A médica, não se dignou a levantar os olhos dos papéis.

***

Não poderia cair no discurso fácil de condenar o governo pela situação. Um olhar acurado é capaz de ver os investimentos que vem sendo feito na saúde. Estrutura, equipamento, treinamento de pessoal.

A única referência que tenho de hospitais públicos fora do Estado do Acre é em São Paulo, especialmente um unidade hospitalar pediátrica e o Hospital de Heliópolis, onde fiquei cerca de 10 dias como acompanhente de um paciente cruzeirense. Nas duas unidades, as filas eram muito maiores, a estrutura era mais velha e a higiene perdia de longe para as unidades do Acre.

O que faz então a gente ter a impressão de estar entrando numa espécie de "sheol" toda vez que se entra em uma unidade de saúde pública?

Neste caso específico, ficou evidente que de todos os elos da corrente que ligam o paciente ao sistema público de saúde, o que não funciona direito é justamente o mais importante: o médico.

Por maior competência técnica que estes profissionais possam adquirir ao longo de suas carreiras, uma atitude negligente diante de um paciente que não sabe qual é o seu problema, compromete todo o sistema.

Não dá para isentar o governo de sua responsabilidade. Existe uma hierarquia e quem está no topo dela, é o governador do estado. Mas também não é possível para tratar o assunto com leviandade.

Aquetsão é que temos uma categoria que se coloca acima do bem e do mal. Que é investigada unicamente pelos seus pares e que reserva para si um direito básico do ser humano, que é o direito à saúde.

A secretária de saúde Sueli Melo, teve de enfrentar a fúria dos médicos por dizer que muitos são mercenários e que o juramento de hipócrates é relativizado pela categoria.

Assista ao vídeo e tire suas próprias conclusões.

Eles ficaram revoltados, fizeram protestos, mas faça uma enquete entre a população e a impressão será a mesma: uma classe privilegida, com altos salários e que na hora em que a população realmente precisa, lhes dá as costas.

Em pauta também está a discução do PL do Ato Médico que concentra ainda mais poder na classe médica, diminuindo as funções dos demais profissionais de saúde. Clique aqui para saber mais.

No texto: "Müraiá: Médicos da Floresta (2)" conto uma história pessoal de um médico do SUS que diante de uma criança com dores e paralisia parcial nas pernas teve a desfaçatez de dizer:

- Não posso fazer nada!

Minha vontade foi dizer para ele : "- então seu vagabundo, sai desta cadeira que eu faço melhor". Mas ainda tive a paciência:

- Mas o sr. não pode ao menos dar uma olhada?

Sem sair de sua cadeira, olhando por cima da mesa ele disse:

-é, parece normal

Fiz uma massagem nas pernas da criança e resolvi o problema que o médico do SUS não se dignou nem sequer a olhar. Desde então tenho procurado ao máximo conhecer aquilo que a natureza pode nos oferecer para nossa saúde e depender o mínimo possível da medicina ocidental, em especial da saúde pública.

Tem também a história da parteira tradicional que conseguiu evitar um cesariana coisa que o ultra-bem-pago ginecologista, não foi capaz, mas isso fica para outro dia.

Descobri que muitos problemas podem ser resolvidos com mudanças na nutrição, novos hábitos de vida, respiração correta, postura correta e etc.

Pequenas coisas que se nos fossem ensinadas, dependeríamos cada vez menos dos médicos e da indústria farmacéutica, que estão em grande parte atreladas não ao conceito de saúde, mas de lucro.

No meu ponto de vista, a saída a longo prazo não é investir somas cada vez maiores em curas mirabolantes, mas uma mudança gradual para um novo paradigma da saúde, tal qual já foi preconizado pela UNESCO na Declaração de Veneza, de 1986.

Um comentário:

  1. Meu Amigo Sergio Argimon não conseguiu postar este comentario. Como eu achei muito apropriado, estou eu memso reproduzindo a opiniõa de um profissional da área de saúde.

    Caro Leandro

    Quem dera nossa saúde estivesse voltada para a prevenção das doenças, invés de investirmos fortunas em um modelo de saúde que espera as pessoas adoecerem para poder ser-lhes de alguma utilidade. Isto quando consegue ser de algu...ma utilidade, já que na maioria das vezes as pessoas são mal atendidas e levadas a procurar os mesmos profissionais, agora em seus consultórios particulares, ondem somam mais um bocadinho ao monte de dinheiro que conseguem arrecadar com a desgraça dos outros. Só não podemos deixar de falar também que mais responsável pela saúde preventiva do que o Governo do Estado são as prefeituras, que recebem todas as verbas para as ações básicas de saúde e não tem cumprido seu papel a contento. Basta dar uma volta pelos postos de saúde e verificar quantos médicos estão atendendo as pessoas e quantos programas como ACS e PSF realmente estão fazendo alguma diferença de fato. Na maioria dos casos tem um papel meramente estatístico, na medida para manter o fluxo das verbas caindo no caixa da saúde municipal.
    Abraço!
    Sérgio Argimon

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