Marcelo Siqueira
Em 1532 quando os espanhóis comandados por Francisco Pizarro desembarcaram na região de Tumbes com o objetivo conquistar o Peru, provocaram sem querer, ao longo dos anos uma série de eventos migratórios neste país, que em alguns aspectos remonta o processo de ocupação humana na região onde hoje está instalado o Estado do Acre.
Por volta de 1640 a perseguição dos espanhóis culminou na fuga de índios dos troncos linguísticos Panos, Aruaques e Katukinas através do Rio Ucayali, que ocuparam posições as margens dos Rios Juruá e Purus, sendo que por volta de 1892 estes já ocupavam os Vales do Ituxi, Acre, Iaco, Taraucá e Envira.
O final Século XIV e o início do Século XX marcam de maneira crucial a história do Acre, pois neste período, a região foi em Parte Bolívia e Peru, mas em portunhol também foi Império de Galvez (1899), passou pelos ciclos da borracha e fez milionários mundo a fora. Entretanto, os pobres seringueiros da região decidiram por vontade soberana que seriam brasileiros e assim, “com tinto do sangue de heróis” lutaram para assim ser, ou melhor, como canta o poeta Alberan Morais: “NáuasAkiri, brasileiramente dobrados” referindo-se a Revolução Acrena.
Todavia, o texto permite chamar a Revolução Acreana de “Revoluções Acreanas”. O plural se refere ao fato de que enquanto Plácido de Castro, conhecido já em telas globais, lutava contra os bolivianos na região do Acre (Rio). Guerreiros seringueiros e indígenas brasileiros, liderados pelo quase anônimo Carlos Eugênio Chavin derramavam sangue contra os caucheiros e militares peruanos na região do Juruá. Conflito também deflagrado na Região do Purus, onde José Ferreira de Araújo juntamente com seringueiros e índios também expulsaram a pólvora e facão os caucheiros peruanos da região. Logo, as três maiores vitórias obtidas, de maneira justa consagram a Revolução Acreana, cuja continuidade a história conta em tratados que os doutos na área melhor podem explicar.
Feito o Acre, fez-se o desde o início o desafio da integração. E na segunda metade do século XX o 7º. Batalhão de Engenharia e Construção (7ºBEC) deu o primeiro tom de esperança para o sonho da nova revolução, a revolução da integração, abrindo um caminho a ser chamado de BR 364.
Os municípios do Vale Juruá, isolados por via terrestre do restante do estado, estabeleceram relações comerciais e consequentemente culturais com o Estado do Amazonas. Enquanto a região do Vale do Acre já estabelecia relações diretas com o restante do país via Capital Rio Branco. Fato que impulsionou um distinto desenvolvimento, em múltiplos aspectos sociais, polarizados entre os extremos do Acre (Rio Branco e Cruzeiro do Sul).
Com o passar do tempo, movimentos separatistas começaram a surgir, clamando pela criação do Estado do Juruá. Vozes que na verdade gritavam contra o isolamento e também contra tantas promessas de integração do Acre via BR 364.
Mas, em 2011, as vésperas do Jubileu da condição oficial de Estado, o povo acreano assistiu (o autor estava lá) em solenidade simbólica no Vale do Jurupari a declaração do governador Tião Viana de abertura definitiva, de inverno a verão, da BR 364. Consolidava-se com este ato a Revolução da Integração, iniciada com Orleir Cameli, porém capitaneada a pulso firme por Jorge Viana, Binho Marques e Tião Viana.
Assim, o Acre chega ao presente com mais uma vitória, com mais uma revolução. E nesse processo evolutivo, outras tantas virão, mas agora o Acre unido e mais forte se consolida para quando necessário gritar a uma só voz: “lutaremos com a mesma energia, sem recuar, sem cair, sem temer”.
(Apesar de se valer de momentos históricos devidamente registrados, este texto não representa um estudo histórico, tratando-se de uma dissertação livre que expressa a opinião do autor)
Literatura de referência:
SOUZA, Carlos Alberto Alves. História do Acre. Rio Branco: Paim, 1995.
* Marcelo Siqueira é professor do curso de enfermagem do Campus Floresta da UFAC
quinta-feira, 14 de junho de 2012
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