É bem mais do que evidente a tentativa de se apagar a verdadeira história do movimento autonomista do Juruá e integra-lo à lógica do Estado (e do Governo).
Na versão mais aceita e difundida pelos historiadores oficiais do governo, o "movimento autonomista (incluindo o Juruá) foi uma luta para que o Território do Acre fosse elevado à categoria de estado". Bem, isto é verdade, mas é apenas parte dela.
Houve na verdade, mais de um "Movimento Autonomista."
O primeiro deles ocorreu em 1910, quando um grupo de cruzeirenses ilustres depôs o então prefeito nomeado pelo Governo Federal. As versões oficiais tratam-se este primeiro movimento autonomista como também a primeira revolta pela elevação do Acre de Territorio à Estado.
Contudo, Glimedes Rego Barros em seu livro "A presença do Capitão Rêgo Barros no Alto Juruá" enfatiza que a motivação da revolta tenha sido na verdade, a perda de autonomia do então Departamento do Alto Juruá, com capital em Cruzeiro do Sul. Rêgo Barros foi o segundo prefeito de Cruzeiro do Sul, o primeiro foi Marcehal Thaumaturgo.
Desde a criação do Território do Acre, Cruzeiro do Sul, Sena Madureira e Rio Branco gozavam do mesmo status de capital departamental.Gradualmente este este "status" foi sendo concentrado somente em Rio Branco. Um marco deste processo foi o fechamento do tribunal de justiça que funcionava em Cruzeiro do Sul no início do século XX. O golpe final na autonomia juruaense veio quando o então Presidente da República, Epitácio
Pessoa decretou o fim da divisão por departamento, acabando de direito,
com uma autonomia que de fato já não existia mais.
E aí começou a história, que até hoje, lutamos para mudar, tão bem expressa nas palavras de Craveiro Costa (ele próprio, um autonomista juruanse): "...com isso (o fim da autonomia departamental) os recursos destinados aos departamentos, concentravam-se na capital, onde lá mesmo se extinguiam.”
A este movimento seguiu-se outro, em 1913, no Purus, aí sim, tendo como foco a criação do Estado do Acre.
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Nada é mais simólico desta tentativa de frustar o legítimo desejo de autonomia do que a estátua de Marcehal Thaumaturgo.
O "presente" do governo para Cruzeiro do Sul é um Cavalo de Tróia ideológico. Colocam na mão do Marechal uma bandeira que ele nunca segurou: a bandeira da revolução acreana, liderada por Plácido de Castro. Uma história belíssima, sem dúvida. Mas Marechal Thaumaturgo fundou Cruzeiro do Sul cumprindo ordens do governo federal, ou seja, a "bandeira" que ele portava era a do Brasil, não a do Acre.
A estátua, da forma como está colocada, é um marco na tentativa de reescrever a História do Juruá apagando dela, o verdadeiro desejo de autonomia dos juruaenses.
(O que para mim não justifica o desrepeito com a qual foi tratada a escultura pela atual administração, cujas motivação não foram "históricas", mas sim, apenas atender a interesses de campanha)
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Que fique claro, não estou fazendo campanha pela criação do Estado do Juruá, apenas lembrando de um sentimento que não podemos deixar se apagar.
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