"Gospelândia rising"
O ano de 2012 chega ao final. A FPA realiza uma tarefa que
parecia impossível: eleger o seu sucessor na prefeitura da capital. Contudo, o
custo havia sido alto e a vitória do candidato do PT foi creditado ao apoio da
chamada “bancada evangélica”, que anos mais, tarde seria chamada pelos próprios
historiadores evangélicos como os traidores da “bancada farisaica”.
Não demorou muito para perceber que o prefeito da capital
tinha pouco poder de fato e de que cada passo seu, era necessária a aprovação de
uma câmara de vereadores agora 100% “evangélica” (mais tarde farisaica). Ávida
pelo poder político, econômico e sobretudo, simbólico na capital os fariseus
foram dominando praticamente todas as esferas sociais de Rio Branco.
Para obter o apoio de governo e prefeitura bastava que um evento
social ou cultural viesse com o carimbo “gospel”. Cargos temporários e
comissionados estavam condicionados às indicações dos pastores das diferentes
denominações que agora dividiam a capital como feudos político-religiosos.
Concursos públicos passaram a exigir questões bíblicas e a citação de versículos do Velho e Novo testamento passou a ser fundamental para a sobrevivência em cargos públicos.
Concursos públicos passaram a exigir questões bíblicas e a citação de versículos do Velho e Novo testamento passou a ser fundamental para a sobrevivência em cargos públicos.
Membros de outras religiões passaram a sofrer
constrangimentos diversos, como por exemplo, a realização de cultos nos horários
de trabalho, quase sempre com passagens bíblicas que pudessem “alfinetar” as
crenças alheias.
Com tantas vantagens e privilégios, uma massa cada vez maior
de fiéis afluiu às principais igrejas evangélicas da capital, na esperança de
receber desde altos cargos comissionados, a simples benefícios que iam desde uma operação
tapa-buracos e saneamento até a doação de cestas básicas.
Em apenas dois anos, tudo, absolutamente tudo estava
condicionado às igrejas que passaram a exercer uma espécie de poder paralelo na
capital. Obter um exame de raio X, por exemplo poderia ser uma saga de semanas,
ou resolvido com um simples telefonema ao pastor influente do bairro.
A “Hora de Deus”
Cada vez mais na mãos dos evangélicos (mais tarde, farisaicos),
O governador foi obrigado a fazer-lhes mais e mais concessões. Em troca de sua
fidelidade ao movimento gospel, o senador Aníbal Diniz fez uma proposta uma
solução mirabolante para a velha questão do horário: baseado em escritos bíblicos,
pediu que os pastores evangélicos reunidos em uma grande corrente no Parque
Gospel pedissem que Deus detivesse o movimento do Sol no céu, como no livro de Josué:
"... E o Sol se deteve, a lua parou... O
Sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia
inteiro...E não houve dia semelhante a esse, nem antes nem depois dele..."
(Js 10:13)
Bem, se parou ou não, eu não sei, mas os historiadores do
governo, todos afirmaram que sim, que o sol parou por uma hora sobre o estado
do Acre: Aleluia!
A Resistência
Houve resistência. E para combater na Jerusalém Gospel, ninguém melhor do que alguém experiente na Intifada: Lhé, o palestino, conseguiu vencer as diferenças entre os descontentes e organizou uma resistência formada por membros de outras religiões, ateus, homossexuais e com o tempo, também muitos evangélicos que começaram a perceber a podridão por trás da “gospelândia”.
A resistência Católica
Cruzeiro do Sul tornou-se o centro da resistência católica, tendo como ponto de união o culto em torno de Nossa Senhora da Glória. A festa da padroeira, com seu tradicional novenário e procissão, passou a receber um número cada vez maior de pessoas da capital. Gente que nunca teve de fato uma religião passou a adotar a imagem de Nossa Senhora da Glória como símbolo de resistência.
O prefeito Henrique Afonso, manteve um frágil equilíbrio,
tolerando diplomaticamente o culto, mas sendo cobrado cada vez mais pelos
evangélicos da capital para tomar alguma atitude contra a “hedionda idolatria”,
como denominavam.
As tensões foram se acirrando até que um grupo de fanáticos
atacou a imagem da catedral, pichando a pintura de Nossa Senhora da Glória como
os dizeres: “Idólatras: Vocês não herdarão o reino dos céus”.
A agressão provocou imensa comoção pública e naquele ano a
procissão teve número recorde: 150 mil participantes. A população de Cruzeiro
do Sul praticamente dobrou durante os dias de novenário.
A Resistência Gay
Os mais perseguidos foram os gays, mas também foram eles que desenvolveram as mais imaginativas formas de resistência. Mesclados à população comum, como atores eles interpretaram os mais diferentes papéis, alguns chegando a dominar ministérios inteiros, sem que nunca se desconfiassem de suas preferências sexuais.
Por outro lado, também souberam identificar preferências sexuais
reprimidas de muitos pastores e políticos evangélicos poderosos e sutilmente os
fizeram “sair do armário”, pelo tempo suficiente para uma boa sessão de fotos
em algum motel escondido. Pastoras, Bispas e Missionárias também foram alvo de
uma rede de extorsão baseada nos mais sórdidos segredos de alcova.
Pentecostalismo na
Floresta
Uma das primeiras pessoas a “pular fora” do barco da “gospelândia”, foi Marina Silva. Ela abriu uma igreja na Reserva Extrativista Chico Mendes: a Igreja Pentecostal Bosque de Abraão.
Lá, os seus membros passaram a realizar os cultos
pentecostais recebendo as mais diversas manifestações do espírito santo: os
animais da floresta começaram a cantar por suas bocas e na xenoglossia (falar
em línguas estrangeiras), passaram a ser pronunciadas as palavras indígenas dos
povos que sempre habitaram a floresta.
Teocracia
Os políticos fariseus começaram a achar que não precisavam mais de "intermediários" no poder. Assim, sendo, o PT , antigo "dono" da capital, perdeu sua função e utilidade. Em 2014, Tião Viana não se reelegeu. No seu lugar, Antônia Lúcia tornou-se a nova governadora. Tião Viana, que procurou manter uma boa relação com as demais religiões, acabou sendo preterido pelos evangélicos "puro -sangue" que passam a administrar diretamente o estado. É o fim formal do estado laico acreano.
Tramita agora no legislativo estadual uma proposta de mudança no hino acreano. Na parte em que se canta “adoremos a estrela altaneira...”, os políticos evangélicos (mais tarde farisaicos), entediam que havia ali um sinal de idolatria que não deveria ser tolerado em um estado “cristão”.
Genipapo
Tião Viana parte para o seu exílio voluntário no Alto Rio Gregório. Cansado e deprimido ele faz uma "dieta" com o Pajé Yawaraní. Pintado da cabeça aos pés de genipapo, o pajé lhe diz:
"-se você está aqui, o ponteiro de seu relógio tem que estar igual ao meu!" O que o obriga a atrasar o relógio uma hora. O simples ato trás a compreensão sobre a hora e o lugar de cada coisa, e como um passe de mágica, as coisas começam a voltar para o seu eixo.
O Legislativo Gospel
Tramita agora no legislativo estadual uma proposta de mudança no hino acreano. Na parte em que se canta “adoremos a estrela altaneira...”, os políticos evangélicos (mais tarde farisaicos), entediam que havia ali um sinal de idolatria que não deveria ser tolerado em um estado “cristão”.
No entanto, um deputado colocou em votação a mudança da
estrela vermelha da bandeira acreana pela estrela de seis pontas de Israel. A mudança
aprovada com larga margem. A ALEAC entendeu que agora, sendo a estrela da bandeira,
a estrela “gospel” não havia mais necessidade de mudança do hino, pois essa sim
podia ser adorada.
Genipapo
Tião Viana parte para o seu exílio voluntário no Alto Rio Gregório. Cansado e deprimido ele faz uma "dieta" com o Pajé Yawaraní. Pintado da cabeça aos pés de genipapo, o pajé lhe diz:
"-se você está aqui, o ponteiro de seu relógio tem que estar igual ao meu!" O que o obriga a atrasar o relógio uma hora. O simples ato trás a compreensão sobre a hora e o lugar de cada coisa, e como um passe de mágica, as coisas começam a voltar para o seu eixo.
O ocaso da "Gospelândia"
Com o passar dos anos, pastores influentes do mundo evangélico começaram a perceber o engodo daquilo tudo. “Nada mais distante dos planos de Deus do que isso”, diziam e passaram a pregar um afastamento das questões políticas. Seguindo o exemplo de Marina Silva, alguns criaram comunidades reclusas na floresta e de lá iniciaram sua pregação sobre o “fim dos tempos” e os “falsos profetas”. Em alguns anos, a pregação começou a chegar às cidades e como um novo veneno, foi penetrando na mente da população, que passou a questionar a “liderança” de seus “falsos profetas”.
Com o passar dos anos, pastores influentes do mundo evangélico começaram a perceber o engodo daquilo tudo. “Nada mais distante dos planos de Deus do que isso”, diziam e passaram a pregar um afastamento das questões políticas. Seguindo o exemplo de Marina Silva, alguns criaram comunidades reclusas na floresta e de lá iniciaram sua pregação sobre o “fim dos tempos” e os “falsos profetas”. Em alguns anos, a pregação começou a chegar às cidades e como um novo veneno, foi penetrando na mente da população, que passou a questionar a “liderança” de seus “falsos profetas”.
Denúncias de corrupção, envolvimento com tráfico de drogas, máfia, homossexualismo entre pastores, queima de arquivo, vieram a tona.
Uma turba formada por católicos, espíritas, ateus e principalmente evangélicos descontentes invade a ALEAC e a Câmara de Rio Branco e expulsa os "vendilhões do tempo" aos brados de "Daí a César o que é de César, e a Deus, o que é de Deus".
A bandeira da nação gospel foi tirada do mastro, arrastada, pisada e queimada. Foi restabelecido o estado laico, com bandeira original do Acre.
Tião Viana volta ao poder aclamado e tem como primeiro ato, a volta ao horário "de Deus".
Anos mais tarde, historiadores evangélicos retratariam o período gospel como a "Era Farisaica". Pastores e denominações próximas ao poder foram taxados de fariseus e aqueles que participaram do movimento de retomada do Estado Laico, como os "verdadeiros evangélicos".
Muito bom, excelente exercício de imaginação, Leandro...
ResponderExcluirDá pra escrever um livro!
Alguém duvida?
ResponderExcluirDá um calafrio só em pensar numa esculhambação dessas.
gospelândia... Esconjuro!!!
A intensão é mesmo essa, Franciney: usar uma caricatura para dar calafrios. Para q não deixemos a sociedadee ir por este rumo q está sendo tomado hoje.
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