terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Dançarino nas Teias da Realidade II
Ato 2 :Waka (água)
Como pode um assopro por de pé um guerreiro caído?
Mas é isso que faz o vê kuxi, o assopro sagrado que Nixi Waká me concedeu ao final da cerimônia. No dia seguinte, havia de fato, algo de novo, mais força, mais esperança.
Embarcamos as dez horas da manhã e iniciamos a decida do rio gregório.
- Nossa o tempo está tão bom pra viajar!
Observou uma das passageiras.
De fato, o tempo nublado nos mantinha livres do sol e uma brisa suave, do calor. Mas achei que aquele cenário não ia durar muito.
Apesar de cheio, o rio Gregório continua sendo um caminho de muoitos obstáculos com paus e balseiros que atravesam de um lado ao outro, obrigando-nos a uma atenção redobrada para nos abaixarmos quando necessário.
- Cuidado aí. Gritou o piloto Nainawá
E nossa canoa passou por cima de um pau submerso.
- Calma aí Nainawá, que ninguém aqui é acostumado a levar pau no fundo, brinquei.
Com cerca de três horas de viagem, paramos na aldeia Amparo. Caía um leve chuvisco, mas assim que desembarcamos a chuva engrossou. Achamos melhor aguardar. Mas após uma hora, a chuva apenas abrandou, sem cessar totalmente.
Descemos com cuidado o barranco escorregadio e embarcamos novamente. De nada adiantou esperar a chuva grossa passar pois com cerca de meia hora, ela se intensificou novamente.
Por sorte, tinha uma boa jaqueta que manteve meu peito aquecido, diminuindo a sensação de frio. Um boné me protegia dos pingos na cabeça e nos olhos.
A superfície do rio estava pontilhada de gotas de chuva e as árvores pareciam emanar uma tênue nuvem de vapor criando, apesar da viagem desagradável, um cenário lindo.
Percebi pela linha dágua que o nível das águas do rio estava subindo rapidamente, cobrindo as praias de areia enfeitadas de cana-brava.
Tivemos de parar algumas vezes nas estreitas praias para reabastecer o pequeno tanque do motor ou para reparos no seu hélice.
Na proa, auxiliava a puxar a embarcação para a praia, ou para tirá-la depois de feitos os reparos.
Surprendi-me comigo mesmo pela minha disposição naquelas condições. Normalmente a chuva, o frio e a mesma posição sentado na embarcação me fazem encolher-me sobre mim mesmo. Mas apesar de tudo estava bem disposto e pude auxiliar Nainawá nas vezes em que precisou.
Confundido na paisagem e no tempo, perdi a noção de quanto faltava para chegar até a vila São Vicente, na BR 364. Notei que minhas maõs estavam muito rugosas devido à chuva, como se tivesse ficado horas dentro d'água.
Meus olhos estavam embaçados com a água quando avistei a ponte sobre o rio Gregório. Lá estava um outro barco Yawanawá, pertencente à aldeia Mutum. Senti um grande alívio ao chegar à lamacenta vila São Vicente.
Emn poucos dias, a Parte III: Nissum
Foto: Edisson Caetano
* Para ler a primeira parte de " Dançarino nas Teias da Realidade" clique aqui.
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