O fato é que muitos leitores se identificam com a linha editorial (e portanto ideológica) da Revista Veja. Não é o meu caso. Mas tudo bem, é importante que em um sistema democrático exista sim o contraditório. O que tenho dito, contudo, é que a Revista Veja tem passado dos limites para defender o seu ponto de vista.
Então Vejamos antes algumas ponderações:
- Não se pode olvidar o importante papel que a Revista Veja, teve por exemplo nas denúncias contra Collor de Melo. Foi a Veja e não a Globo, como muitos acreditam, que realmente foi o porta voz da insatisfação popular contra Fernando Collor de Melo. Papel que a história não poderá negar.
- A Revista Veja não deixou de divulgar denúncias que atingiram em cheio o governo FHC, cumprindo portanto o seu papel de informar, mesmo sendo a sua linha editorial de apoio à FHC.
(O que a Revista Caros Amigos também faz em relação ao governo do PT).
- A partir do final do segundo mandato de FHC a Revista Veja, foi de modo cada vez mais evidente, tomando partido e deixando de ser um veículo de informação para cumprir o papel de propaganda política.
Passando dos Limites
No entanto, eu digo que um instrumento de comunicação, ou mesmo de propaganda, que seja, passa dos limites quando inventa depoimentos e personagens. Há pelo menos dois casos que vieram a público.
1º - O Depoimento Inventado de Eduardo Viveiros de Castro
O primeiro deles foi o depoimento inventado do antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro:
"Não basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente de cultura indígena original".
Eduardo Viveiros de Castro jamais disse a frase entre aspas. Uma clara tentativa de colocar na boca de uma autoridade do assunto a sua propria opinião. Isto que eu chamo de passar dos limites.
Veja, ou melhor leia o que diz o cientista social Celso Rocha de Barros, autor do blog Na Prática a Teoria é Outra (declaradamente não-marxista).
"É óbvio que o que a Veja está tentando fazer o Viveiros de Castro dizer é que só é índio quem ficou lá pelado comendo mandioca, e, eventualmente, outros índios, no mesmo lugar da mata a vida inteira, até morrer de varíola por volta de 1600.
Nem se vocês enfiarem o Reinaldo Azevedo no cu do cadáver fresco do Lévi-Strauss você vai conseguir fazer essa idéia sair de dentro de um antropólogo. Com muita boa vontade, e, repito, eu não acredito no que vou dizer agora, é só for the sake of argument, esse critério pode corresponder a um dos que o EVC oferece (como suficiente, mas não necessário): o cara estar lá no território ancestral."
Segue a carta de Eduardo Viveiros de Castro
Ao Editores da revista Veja:
Na matéria “A farra da antropologia oportunista” (Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010), seus autores colocam em minha boca a seguinte afirmação: “Não basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente cultural original” . Gostaria de saber quando e a quem eu disse isso, uma vez que (1) nunca tive qualquer espécie de contato com os responsáveis pela matéria; (2) não pronunciei em qualquer ocasião, ou publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no conteúdo como na forma. Na verdade, a frase a mim mentirosamente atribuída contradiz o espírito de todas declarações que já tive ocasião de fazer sobre o tema. Assim sendo, cabe perguntar o que mais existiria de “montado” ou de simplesmente inventado na matéria. A qual, se me permitem a opinião, achei repugnante.
Grato pela atenção,
Eduardo Viveiros de Castro
Houve ainda uma réplica da Veja e uma tréplica do Antropológo. Mas o fato é que a frase nunca foi dita.
Extraído do seu blog:
" A convocação mais entusiasmada para o ato está na página de Rafaela Martinelli, aluna da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e moradora do Crusp. É publicidade que ela queria, não? Aqui está. É daquela turma contrária à presença da PM no campus, entenderam? Cheguei a pensar que fosse ela. Não dá para saber. Entre os temas que acompanha, está a “Corrente Marxista do PT”. Huuummm… Entendi tudo."
(Rapaz este estilo, me lembra alguém... Quem será? Ah! Deixa pra lá, deve ser algum perfeito idiota)
Só que na verdade o jornalista idolatrado pelos "anti" qualquer coisa, criou uma outra personagem que não é a da matéria. Não se trata de Rafaella Martinelli e sim Arielle Tavares Moreira. Leia aqui a entrevista com a personagem verdadeira Arielle Tavares Moreira
Digo não se tratar de uma simples troca e sim de uma invenção, porque a personagem colocada por Reinaldo atende perfeitamente à sua necessidade de enquadrá-la no conceito (ou seria na peça?) que pretende pregar.
Veja, isto não é jornalismo e nem mesmo publicidade. É propaganda enganosa.
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