segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Kambô: conhecimento tradicional comprovado pela ciência

Substâncias encontradas na secreção cutânea da Phyllomedusa bicolor podem auxiliar no combate ao mal de Parkinson, AIDS, Câncer, Depressão e Derrames.

Difusão do uso deste medicina iniciou-se em Cruzeiro do Sul

* O sapo verde
-phyllomedusa bicolor é a maior espécie do gênero da família Hylidae, que ocorre na Amazônia [1]. Podendo ser encontrado em quase todos países amazônicos, como as Guianas, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e Brasil. Principalmente no período das chuvas, sob árvores próximas aos igarapés. Onde coaxam por toda noite, anunciando chuva no dia seguinte. Mas, é na madrugada, que são "colhidos" a fim de retirarem sua secreção cutânea, para fazer a “vacina do sapo”.

Uso Tradicional

Tomar a vacina do sapo é uma prática antiga com fins medicinais, muito difundida entre os povos indígenas do Brasil e do Peru. A finalidade mais procurada é “tirar a panema”, ou seja, afastar a má sorte na caça e com as mulheres.
Existem variações nos rituais e nomes dados ao sapo verde. Na história antiga dos Kaxinawá, o sapo kampu (nome utilizado pelo povo Kaxinawá),era o chefe do “nixi pëi”, bebida preparada com o cipó Banisteriopsis caapi (ver também o caso da Ayahuasca). Já os Katukina, nunca o matam, pois dizem que poderão ser picados por cobra, pois seu veneno é retirado do sapo kambô. Para os Ashaninka, quando o sapo wapapatsi canta perto da casa, o dono tem que apanhá-lo, queimar os pulsos e dormir. Bem cedo, tem de preparar um mingau bem forte e bater nas costas do sapo, para ele soltar o veneno que será passado sobre a pele. Entretanto, o remédio somente terá resultado, se o caçador seguir as regras.
A vacina do sapo é considerada um remédio para muitos males pelas populações tradicionais do vale do Juruá, curando desde amarelão até dores em geral.[2] Hoje, a vacina do sapo é utilizada também por seringueiros e vem sendo aplicada por alguns curandeiros nas cidades de Cruzeiro do Sul/AC e Rio Branco/AC.

O efeito da vacina do sapo é curto, porém muito forte: ”uma forte onda de calor, que sobe pelo corpo até a cabeça. A dilatação dos vasos sanguíneos parece provocar uma circulação mais veloz do sangue, deixando o rosto vermelho e, seguida fica pálido, a pressão baixa, podendo provocar náuseas, vomito e/ou diarréia. Durando cerca de 15 minutos. Sensação desagradável, que aos poucos retorna a normalidade, e a pessoa se sente mais leve, como se tivesse feito uma boa limpeza, causando uma maior disposição”.

Pesquisa internacional


Pesquisas científicas vem sendo realizadas sobre as propriedades da secreção de phyllomedusa bicolor desde da década 80 ou antes. O primeiro a “descobrir” as propriedades da secreção para a ciência moderna, foi um grupo de pesquisadores italianos[3,4]. Amostras das rãs foram levadas do Peru para um pesquisador nos EUA[5]. (Pesquisador que já tinha pesquisado e patenteado anteriormente substancias da râ Epipedobates tricolor, utilizada tradicionalmente pelos povos indígenas de Equador. ver tambem na pagina mais casos).
Também foram publicadas pesquisas sobre as propriedades da secreção por pesquisadores franceses e israelitas[6]. Mais recente, a Universidade de Kentucky (EUA) está pesquisando (e patenteando) uma das substâncias encontradas na secreção do sapo em colaboração com a empresa farmacêutica Zymogenetics.[7]

Resultados surpreendentes

As pesquisas revelaram que a secreção de phyllomedusa bicolor contém uma serie de substancias altamente eficazes, sendo as principais a dermorfina e a deltorfina, pertencentes ao grupo dos peptídeos. Estes dois peptídeos eram desconhecidos antes das pesquisas de phyllomedusa bicolor. Dermorfina é um potente analgésico e deltorfina pode ser aplicada no tratamento da Ischemia. (um tipo de falta de circulação sanguínea e falta de oxigênio, que pode causar derrames). As substâncias da secreção do sapo também possuem propriedades antibióticas e de fortalecimento do sistema imunológico e ainda revelaram grande poder no tratamento do mal de Parkinson, aids, câncer, depressão e outras doenças.
Deltorfina e Dermorfina hoje estão sendo produzidos de forma sintética e os laboratórios podem adquirir-las através de compra on-line.

PATENTES
(patentes que contem as palavras "phyllomedusa bicolor" e/ou deltorphin e/ou dermorphin no titulo e/ou na descrição)
Registrado por
Registrado
onde
Data de publicação
Titulo
Numero
(Clique o numero para mais informação fornecida por esp@cenet e USPTO)
UNIV KENTUCKY RES FOUND (US) * OMPI - mundial 12/06/2003 Protection against ischemia and reperfusion injury

University of Kentucky Research Foundation (Lexington, KY); *
ZymoGenetics (Seattle, WA) *
Estados Unidos 30/04/2002 Method for treating cytokine mediated hepatic injury
University of Kentucky Research Foundation (Lexington, KY); *
ZymoGenetics (Seattle, WA) *
Estados Unidos 25/11/2001 Method for treating ischemia
UNIV KENTUCKY RES FOUND (US) * OMPI - mundial 11/11/1999 METHOD FOR TREATING ISCHEMIA
UNIV KENTUCKY RES FOUND (US) * OMPI - mundial 11/11/1999 METHOD FOR TREATING CYTOKINE MEDIATED HEPATIC INJURY
Inventores: BISHOP PAUL D (US); KINDY MARK S (US); OELTGEN PETER R (US); SANCHEZ JUAN A (US) * OMPI - mundial 09/05/2002 USE OF D-LEU DELTORPHIN FOR PROTECTION AGAINST ISCHEMIA AND REPERFUSION INJURY
Mor; Amram (Jerusalem, IL) * Estados Unidos 27/09/2002 Peptides for the activation of the immune system in humans and animals
ASTRA AB (SE) * Estados Unidos 11/02/1997 Dermorphin analogs having pharmacological activity

IAF BIOCHEM INT (CA) * União Européia,
Estados Unidos
10/01/1990 Dermorphin analogs, their methods of preparation, pharmaceutical compositions, and methods of therapeutic treatment using the same.
DAINIPPON PHARMACEUT CO LTD * Japão 17/05/1989 DERMORPHIN-RELATED PEPTIDE

Preocupação das populações tradicionais
Existe uma crescente preocupação dos povos da floresta com o aproveitamento do conhecimento e dos recursos biológicos, que eles utilizam tradicionalmente, por parte de grandes empresas. Esta preocupação foi articulada, entre outros, no II Encontro Interinstitucional dos Povos da Floresta do Vale do Juruá Acreano, em abril/maio 2003. A preocupação com o patenteamento da vacina do sapo foi principalmente instigada com uma matéria do Globo Reporter , exibido em 02/2002. Desde enquanto, representantes indígenas da região solicitam que seja averiguado este caso.
Se você possui informações que podem nos ajudar nesta pesquisa, favor enviar para info@amazonlink.org


Bibliografia:
  1. SOUZA, Moisés B. Diversidade de Anfíbios nas Unidades de Conservação Ambiental: Reserva Extrativista do Alto Juruá (REAJ) e Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD), Acre – Brasil – UNESP- Rio Claro, SP. 2003, p.56-57. (Tese de doutorado).
  2. SOUZA, Moisés B. et al. Anfíbios. In: CUNHA, M. C. da; ALMEIDA, M. B. (Orgs.). Enciclopédia da Floresta: O Alto Juruá: Práticas e Conhecimentos das Populações, São Paulo - SP., Companhia das Letras, 2002, p.608-610.
  3. Erspamer, V., Melchiorri, P., Falconieri-Erspamer, G., Negri, L., Corsi, R., Severini, C., Barra, D., Simmaco, M. and Kreil, G. (1989) "Deltorphins: A family of naturally occurring peptides with high affinity and selectivity of d opioid binding sites," Proc. Natl. Acad. Sci. USA, 86, 5188-5192.
  4. Erspamer, Vittorio et al., 1993, Pharmacological Studies of 'Sapo' from the Frog Phyllomedusa bicolor Skin: A Drug Used by the Peruvian Matses Indians in Shamanic Hunting Practices, Toxicon, 31:1099-1111.
  5. Daly, J.W. et al. "Frog Secretions and Hunting Magic in the Upper Amazon: Identification of a Peptide that Interacts with an Adenosine Receptor", Proceedings of the National Academy of Sciences 89: 10960-10963, 1992.
  6. Pierre Nicolas and Amram Mor, Peptides as Weapons Against Microorganisms in the Chemical Defense System of Vertebrates Annu. Rev. Microbiol. 1995, Vol. 49: 277-304
  7. Sigg D, Coles JA, Oeltgen PA, and Iazzo PA. Role of Delta-Opioid Receptor Agonists on Infarct Size Reduction in Swine. Am J Physiol Heart Circ Physiol. 282:H1953-H1960, 2002

* Extraído so site: http://www.amazonlink.org/

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No Campus Floresta da UFAC já começaram-se a produzir os primeiros trabalhos sobre o uso tradicional do Kambô, exatamente na Boca da Alemanha em Cruzeiro do Sul, certamente um dos principais locais de difusão desta medicina. Foi tema de meu Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo, na forma de uma Experiência Narrativa.

Quem participou das discussões sobre a criação do Campus Floresta da UFAC em Cruzeiro do Sul, deve lembra-se que o kambô foi citado como exemplo objetivo de conhecimento tradicional o que justificaria a criação de uma universidade com cursos voltados à área de biologia, a fim de que tais conhecimentos venham a ter valor comercial, tal qual os laboratórios internacionais, que partiram na frente com a pesquisa.

Também em Cruzeiro do Sul ocorrem iniciativas sobre a discussão da repartição de benefícios com as comunidades tradicionais. É conscenso, memso na comunidade científica, que a aplicação dos conhecimentos tradicionais na pesquisa científica conduz os pesquisadores á resultados bem mais rápidos e precisos, reduzindo enormentente os altos custos da pesquisa laboratorial.

Postagem anterior sobre este mesmo tema:

Ah! Kambô, Kambô Hô!

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